A ruptura do modelo atual do setor automotivo e a ascensão da nova mobilidade são assuntos que ganham espaço nos mais diferentes palcos pelo mundo: desde os salões do automóvel até feiras de bens de consumo, como a Consumer Electronic Show (CES), que acontece em Las Vegas, nos Estados Unidos. A história se repetiu na Hannover Messe, maior encontro do mundo sobre tecnologia industrial, com soluções de máquinas e equipamentos, tecnologias de conectividade e Internet das Coisas (IoT) além, claro, de novidades na área de mobilidade.
Quase um pavilhão inteiro do imenso evento alemão foi dedicado a soluções nessa área, incluindo carros elétricos, veículos com potencial para automação, drone de passageiros e muita discussão sobre eletromobilidade. O evento contava, inclusive, com uma área de test drive de veículos com novas opções de propulsão.
Eletromobilidade no centro do debate
O Grupo Volkswagen garantiu presença relevante no evento. Audi, Porsche e a marca Volkswagen tiveram participações. A primeira fez no evento demonstração da tecnologia 5G em parceria com a Ericsson. Segundo a organização, a conexão mais rápida é essencial para viabilizar tanto a indústria quanto a mobilidade do futuro, garantindo que dados fluam rápido.
A Porsche mostrou na Hannover Messe suas soluções de recarga de carros elétricos, disputando a atenção com companhias que também são suas fornecedoras, como a ABB e a Siemens, que apresentaram soluções próprias de abastecimento destes carros. O assunto é um dos debates mais relevantes na Alemanha hoje quando se trata de mobilidade, já que o país vem trabalhando para expandir a sua infraestrutura de carros elétricos e, em paralelo, na ampliação da frota destes modelos para cumprir o cronograma de eliminar automóveis a combustão a partir de 2030.
Uma das soluções apresentadas pela Siemens é oferecida em parceria com a startup Ubitricity, startup que recebeu aporte do Next47, fundo de capital de risco da companhia alemã. A ideia é oferecer tecnologia que permite implementar pontos de recarga para veículos elétricos em postes de luz pela cidade – alternativa já adotada em Londres e Berlim. Juntas as cidades já fecharam a instalação de 3,2 mil eletropostos neste sistema.
A vantagem, aponta a companhia, é reduzir o custo de instalação dos pontos, que custam a partir de mil euros. As próprias empresas de distribuição de energia podem implementar e, quando o consumidor faz a recarga, a cobrança vem direto na conta de luz. Um resultado da colaboração entre a indústria tradicional, o ecossistema de startups e o setor de energia.
Carro autônomo como base para novos negócios
O estande da marca Volkswagen mostrou a plataforma MEB (de modular electric drive system), que servirá de base para os carros elétricos e com alto nível de automação da marca. A fabricante optou por não mostrar nenhum automóvel, apenas a nova arquitetura, além de brincar com maquetes que indicam como a novidade pode ser aproveitada e dar espaço a novos modelos de negócio.
Entre os exemplos, está um modelo de consultório de telemedicina em que o próprio banco do carro mede pressão, temperatura e ritmo cardíaco. Outra ideia é o automóvel-loja, que leva até o cliente algumas roupas, já no tamanho dele, para que ele prove e faça a compra enquanto se desloca. Outra abstração da montadora era um ponto de recarga móvel para carros elétricos. Ficou sem bateria? É só chamar por aplicativo que o posto vai até você.
Carro que voa? Teve também
A startup holandesa PAL-V, fundada em 2008, mostrou na Hannover Messe um drone de passageiro que pode ser usado para rodar nas estradas, como um carro, ou levantar voo, como um helicóptero. A ideia, aparentemente futurista, está bem próxima da realidade alemã. “Já vendemos a nossa primeira unidade, que deve começar a operar em 2020”, contou Joris Wolters, especialista da área de marketing e vendas da companhia.
Segundo ele, a inusitada versatilidade do veículo faz com que ele se adeque à legislação existente no país, sem demandar uma mudança nas regras para começar a operar. O drone tem motor a combustão que garante autonomia de até 400 km em terra ou no ar. O preço atual da novidade é pouco convidativo ao público em geral: US$ 500 mil. Ainda assim, a empresa avalia que há um bom potencial de mercado. “Nosso foco está em empresários que viajam e poderiam ganhar tempo com a solução, agências de turismo que usariam em passeios e até em organizações sem fins lucrativos que precisam de agilidade para chegar em áreas de risco, por exemplo”, diz, convicto de que o carro voador tem muitos horizontes a desbravar.
Fonte: Automotive Business, 05/04/2019