As cidades são muito criticadas pela forma como lidam com sua frota de veículos particulares, mas você já pensou em quanto do solo é dedicado aos estacionamentos térreos? Na verdade, esta pode ser uma das características mais marcantes da cidade do pós-guerra nos Estados Unidos. Habitação, instalações comunitárias e infraestrutura rodoviária muitas vezes atraem a atenção, mas a quantidade de área dedicada apenas para estacionar os carros é surpreendente.
Há 8 vagas de estacionamento para cada carro nos Estados Unidos e elas cobrem mais de 5% das áreas urbanas - maior que os estados de Rhode Island e Delaware juntos. Em Los Angeles, uma cidade que luta contra a falta de moradia, há mais vagas de estacionamento que moradias. Embora esses números sejam surpreendentes, a quantidade de estacionamento que consome nosso território é difícil de ser compreendida, já que se relaciona a assuntos mais debatidos em planejamento urbano. Por exemplo, todos nós moramos em uma casa, por isso discutimos frequentemente sobre acesso a moradia. Alguns vivem em centros urbanos, então trabalhamos para melhorar os sistemas de transportes públicos. Mas quantas vezes você dirigiu até uma loja e pensou: “há muito estacionamento!” Provavelmente nunca, mas, por outro lado, você já deve ter passado um tempo procurando uma vaga e pensado “não há estacionamento suficiente!”
Para entender os estacionamentos como um problema relevante, é importante compreender a razão pela qual prefere-se aumentar a densidade urbana e manter estacionamentos a empregar uma densidade urbana menor e aproveitar os espaços que seriam destinados a estacionamentos. A primeira questão é que nossas tentativas de mudar o zoneamento de áreas de habitações unifamiliares para multifamiliares e lotes industriais para residenciais, etc, muitas vezes levam em consideração apenas a área construída. O que precisamos fazer é examinar com mais atenção as políticas que nos levaram a construir muitos estacionamentos e as leis que resultaram em grandes áreas dedicadas a carros e áreas menores dedicadas a edifícios.
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tiveram uma explosão na criação de loteamentos suburbanos e na aquisição de carros. Para acompanhar a taxa de compra de carros, os EUA criaram requisitos mínimos para estacionamento, que incluíam oferecer vagas dentro dos lotes além das oferecidas nas vias. Quase 70 anos depois, essas normas continuam mesmo quando procuramos aproveitar melhor o terreno e explorar outros meios de transporte. No passado, os planejadores urbanos não tinham dados suficientes projetar normas para vagas de estacionamento, então elas eram frequentemente criadas sem embasamento. Muitos regulamentos de zoneamento exigem um espaço de estacionamento por unidade residencial, um por 30 metros quadrados de área comercial e um por 10 metros quadrados de restaurante. O resultado disso é muitas vezes um estacionamento que é três vezes o tamanho do edifício que ele atende.
Por conta disso, muitas pessoas estão começando a reconsiderar o tamanho da área destinada apenas para estacionar nossos veículos temporariamente. Uma das estratégias é redefinir os requisitos de estacionamento que, em várias situações, seguem interesses do mercado e relacionar o número de vagas com sua real necessidade. Quando priorizamos carros, limitamos o espaço que podemos destinar a habitações, empresas e equipamentos públicos. Sem contar como isso contribui para o aumento dos custos de construção. Em Los Angeles, por exemplo, cada vaga de estacionamento custa um mínimo de US$ 50.000 para os proprietários do lote.
Outro aspecto do planejamento urbano que nos obriga a depender de carros é a forma como o uso do solo é distribuído. Quando as habitações estão localizadas em uma área, os escritórios e comércio em outra e escolas e supermercados em uma terceira região da cidade, dificulta-se a mobilidade urbana. Resultando na necessidade de vagas de estacionamento para cada uma dessas paradas que precisamos fazer.
Fonte: ArchDaily, 08/02/2022