Com poucas restrições sanitárias ditadas pela Covid-19 ainda em vigor, a circulação de pessoas nas áreascomerciais das cidades voltou a ser intensa. Essa maior movimentação, porém, também demanda uma estrutura mínima de mobilidade para que os clientes possam chegar aos estabelecimentos.
Uma das mais comuns são as "zonas azuis", nas quais as vagas de estacionamento em passeios públicos são cobradas nas vias de maior movimento. A medida, que divide condutores, é justificada pela necessidade de rotar os veículos estacionados para que sempre haja vagas disponíveis para os compradores.
Se entre os usuários o estacionamento rotativo causa divergências, para as entidades que representam o comércio ele costuma ser unanimidade. Para a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Novo Hamburgo, Campo Bom e Estância Velha (ACI-NH/CB/EV), por exemplo, as zonas azuis são uma forma de otimizar a utilização das vagas e facilitar o acesso ao comércio do Centro e dos bairros.
Diferenças
Mesmo nas cidades onde o sistema está implementado, contudo, ele não é necessariamente um facilitador para o acesso ao comércio. Ao lado você pode conferir como o serviço funciona em alguns dos principais municípios da região.
Em três das quatro principais cidades que foram fonte para esta reportagem, a gestão do estacionamento rotativo é feita pela mesma empresa: a Rek Parking, de Santa Maria. Uma delas é em São Leopoldo, onde há 1,7 mil vagas na zona azul, com fluxo médio de 85 mil veículos mensais.
Esse movimento gera, em média, R$ 50 mil à prefeitura, o que corresponde a 18,30% da receita bruta do estacionamento rotativo. Esse valor, de acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura, vai para o Fundo Municipal de Segurança Urbana para auxiliar as forças policiais atuantes no município.
Moradora de Esteio, a engenheira civil Juliana Dias de Lima diz que não sente maior segurança ao estacionar seu carro para compromissos em São Leopoldo. Mas apesar da crítica, ela não é totalmente contra a implementação do serviço. "Se não fosse assim, teria gente ocupando lugar o dia inteiro", diz.
Na vizinha Sapucaia do Sul, o estacionamento rotativo começou a ser cobrado em agosto de 2020, abrangendo 17 ruas e avenidas da área central. Para este ano, segundo o diretor de tráfego da Secretaria de Segurança e Trânsito, Samuel Silva, a expectativa é de ampliar a área de abrangência do rotativo na cidade.
Segundo ele, em 2021 foram arrecadados com o estacionamento rotativo na cidade R$ 1.153.529,60. O valor, conforme Silva, é investido na sinalização viária do município. O pagamento do tíquete pode ser feito no parquímetro, junto dos monitores que circulam pelo Centro, em pontos de venda ou com créditos eletrônicos de estacionamento pré-pagos do aplicativo Digipare.
Pioneira, Novo Hamburgo ainda vive em 1997
Uma das cidades pioneiras na implantação do estacionamento rotativo, ainda em 1997, Novo Hamburgo estagnou. Gerido pela Faixa Nobre, o serviço da Companhia Municipal de Urbanismo (Comur) pouco se atualizou nos últimos 25 anos. Até hoje é necessário comprar o cartão impresso com um dos 16 fiscais, preencher as lacunas à caneta e colocar no carro. Ainda há opção de aquisição em algumas poucas lojas conveniadas, mas sequer há parquímetros dispostos nas ruas.
A situação, contudo, deve se alterar já no segundo semestre. A Comur realiza a compra dos sistemas de informática e equipamentos que serão utilizados na modernização do serviço, que passará a se chamar Rotativo Digital. A intenção é implementar um sistema por meio de aplicativos para celulares e sem parquímetros.
"O parquímetro nasceu em uma era analógica, como um dispensador de papel na falta da presença humana. Atualmente, a presença humana pode ser mais racionalmente substituída pelo meio digital, que é mais barato, eficiente e sustentável", pontua Fábio Tomasiak, advogado da Comur e um dos responsáveis pelo projeto.
Os servidores da Faixa Nobre, contudo, serão mantidos nas ruas. Além da fiscalização, eles também atenderão os condutores de outras cidades ou que tenham dificuldades com o aplicativo. Os usuários ainda terão de pagar por meio de POS - espécie de maquinha de cartões - dispostos nas ruas.
Em 2021, a Faixa Nobre arrecadou, em média, mais de R$ 50 mil mensais. O sistema é responsável por 1.935 vagas, que têm ocupação média de 77,6% e taxa de rotatividade de 25% a cada 30 minutos.
As 750 vagas do estacionamento rotativo de Canoas devem sofrer modernizações em breve. Isso porque a prefeitura organiza novo processo licitatório para o serviço, que também é gerido pela Rek Parking. De acordo com a assessoria de imprensa do município, a empresa vencedora da concorrência terá de atualizar o sistema de controle e monitoramento, com a implantação de novas tecnologias, como sensores nas vagas que indicam no aplicativo onde há disponibilidade para estacionar.
Pelo atual contrato, a prefeitura recebe 12% do arrecadado nas 750 vagas da área azul - o valor fica em torno de R$ 10 mil a R#$ 12 mil mensais - com o serviço na cidade, o que corresponde a uma média mensal de R$ 11 mil. Muito desse total é recebido por meio dos 30 parquímetros e pontos de venda espalhados pela região central da cidade. As máquinas amarelas chamam a atenção e não deixam o motorista esquecer: para estacionar, tem de pagar.
Quem nunca esquece disso é o promotor de vendas Luan Feitosa, morador do bairro Fátima, que veio de Belém do Pará há três anos e gostou do sistema rotativo utilizado. "Eu uso muito o carro e vou para vários lugares no mesmo dia. De onde eu vim, não existe esse modelo. Achei bem interessante e me tornei usuário assíduo. O preço é justo, pago facilmente pelo aplicativo no celular e sei que há monitoramento", comenta ele, que nem sempre consegue vaga, mas garante que, de qualquer forma, a economia em relação a um estacionamento particular compensa.
'Meios de cobrar que funcionam'
O estacionamento rotativo de Canoas funciona de segunda a sexta-feira, das 8 às 19 horas e, aos sábados, das 9 às 13 horas. No domingo, não há cobrança. Uma hora de uso custa R$ 1,25 e o limite para deixar o veículo parado na área azul é de duas horas. Além do pagamento em moedas, o motorista também pode utilizar cartão de débito ou crédito, cartão recarregável do rotativo ou via aplicativo.
Morador e empresário do Centro, Carlos Mendes é um dos que, de tanto utilizar o parquímetro, resolveu aderir à ferramenta de recarga. "Os métodos de cobrança funcionam, nunca tive problemas, uso todos os dias. Minha única ressalva é quanto a delimitação dos espaços, que precisa ser melhor sinalizada", pondera Mendes.
Alguns municípios não têm nenhum tipo de restrição
Há algumas importantes cidades da região que não têm restrição para o estacionamento de veículos em suas áreas centrais e comerciais.
Em Dois Irmãos, Ivoti, Igrejinha, Campo Bom e Estância Velha, por exemplo, os condutores podem deixar seus carros e motos estacionados sem preocupações com prazos e cobranças.
Fonte: Jornal ABC - Novo Hamburgo - RS - 02/04/2022