Carros movidos a hidrogênio habitam a imaginação das pessoas há décadas, mas eles já são realidade há bons anos. O Toyota Mirai é o primeiro automóvel de série do mundo com esse combustível e, desde 2015, já vendeu mais de 50.000 unidades. O hidrogênio, entretanto, tem aplicações muito mais diversas (e úteis). E é a própria que marca japonesa pensa assim. Praticamente todos os veículos a hidrogênio do mundo utilizam a chamada célula de combustível. A grosso modo, o aparelho utiliza placas empilhadas que, por reações físico-químicas, geram eletricidade através do gás hidrogênio.
A pressão do gás é altíssima, mas os cilindros de armazenamento são revestidos por malhas de fibra de carbono usadas por foguetes espaciais. Não há registros de explosões dos Mirai, mesmo em acidentes violentos. E a confiança dos japoneses é tão grande que a marca apresentou um 'cilindro-mochila' de hidrogênio de finalidades inusitadas.Uma delas é reabastecer, com praticidade, os Toyota com motor a combustão convencionais, adaptados para queimar hidrogênio ao invés de gasolina. O trabalho é feito junto à Yamaha, buscando manter o charme do motor barulhento mesmo num futuro distante, onde postos de gasolina serão raridade.
Na versão mais recente do mecanismo, sequer há necessidade da fibra de carbono, já que o hidrogênio fica armazenado em forma líquida nas garrafas. Assim, basta introduzir o cilindro no bocal do carro que um compressor se conecta automaticamente, funcionando como uma bomba injetora conectada ao motor.Também dá para queimar o hidrogênio vaporizado em um fogão portátil ou um aquecedor residencial. Outra possibilidade é conectar os cilindros de gás à célula de combustível, gerando eletricidade farta a partir de um mecanismo leve e pequeno.
Sob o capô, é difícil apontar diferenças no Corolla Cross que queima hidrogênio no seu motor convencionalSob o capô, é difícil apontar diferenças no Corolla Cross que queima hidrogênio no seu motor convencional - Divulgação ()
Salvação dos caminhõesA fins de comparação, uma bateria veicular de 1.000 kg tem energia equivalente a 3 kg de hidrogênio gasoso pressurizado, aproximadamente. Nesse cenário, ainda mais importante que o powerbank hi-tech, a célula de combustível também pode salvar os caminhões,Tantos os japoneses quanto seus rivais correm para oferecer alternativas ao diesel, que é um dos grandes inimigos do aquecimento global. Não é possível copiar a estratégia dos carros, pois um caminhão elétrico usaria baterias de até 10 toneladas caso oferecesse a mesma capacidade de carga e alcance que um bitrem atual.
Por consequência, a capacidade de carga útil seria bem menor. Além disso, as instalações necessárias para recarregar veículos assim em tempo hábil seriam caras e complexas demais para tornar o frete viável.
O caminhão a hidrogênio da Toyota já existe, sendo usado pela Coca-Cola desde o ano passado. Os cilindros dos protótipos levam menos de 60 kg de gás pressurizado, mas alimentam um motor de 456 cv e permitem autonomia superior a 500 km.
Na hora de abastecer, o motorista pode encher o cilindro com a mesma rapidez que um posto de combustível comum, ou simplesmente inserir um novo tubo de H2 pressurizado.A tecnologia, inclusive, permite que a produção do hidrogênio para veículos seja concentrada em um único ponto e os cilindros sejam vendidos no varejo comum, sendo retornáveis ou não.
Os testes necessários para validar a tecnologia ainda levarão alguns anos, mas os resultados preliminares impressionam. Não é à toa que fabricantes de navios e aviões — que também sofrem com o problema de peso das baterias — já olham para o elemento mais abundante do universo como a garantia de um futuro sem poluição gerada por veículos de grande porte.
UOL Carros, 19/02/2025