Luiz Alberto Marinho* - Aconteceu na semana passada, em Las Vegas (EUA), a convenção do ICSC, que já foi a entidade global de shopping centers e hoje se apresenta como uma comunidade que congrega marketplaces, físicos e virtuais. Para o novo ICSC, os antigos templos de consumo tornaram-se espaços onde as pessoas, ao mesmo tempo, compram, comem, trabalham, se divertem e se encontram. Uma tremenda evolução.
Durante o evento, em Las Vegas, o ICSC divulgou um relatório sobre o momento do setor em 2022. Nas suas conclusões, o documento, chamado State of Industry 2022, lista cinco tendências para o futuro.
Quer saber quais são? Então, vamos lá.
- Lojas físicas funcionando como apoio logístico. Nelas, compras feitas online serão embaladas e despachadas, permitindo entregas mais rápidas em áreas densamente povoadas. Bem, isso já acontece bastante por aqui, em especial nas redes mais estruturadas, não é mesmo?
- Marcas usando automação para substituir mão de obra humana. Estudo da Deloitte prevê que loja autônoma, sem funcionário, será lugar comum nos próximos cinco anos. Será mesmo? Aqui tenho minhas dúvidas. Não apenas a mão de obra é mais barata no Brasil, como as pessoas apreciam muito a interação humana nas lojas. É certo que mais operações autônomas vão surgir, mas daí a virar lugar comum em cinco anos, é pouco provável que aconteça. Vamos ver.
- Dark stores devem se multiplicar para suportar as atividades de e-commerce. Antes restritas a áreas industriais, esses minicentros de distribuição invadirão os centros urbanos, expandindo a capacidade das marcas varejistas de operar a última milha. Espera, isso ainda é tendência lá fora? Aqui já é realidade. As dark stores, e também as dark kitchens, estão espalhadas pelas grandes cidades brasileiras, agregando rapidez e economia às entregas de produtos e alimentos comprados pela internet.
- Haverá um crescimento de complexos multiuso, envolvendo varejo, residências e restaurantes. As regiões mais distantes dos centros continuarão a receber mais pessoas que hoje podem trabalhar de casa, estimulando a multiplicação dos projetos de uso misto. Gente, essa história de varejo, residências e restaurantes foi exatamente o tema do meu artigo anterior aqui no Mercado&Consumo. O título, inclusive, era “Viver, comer e comprar: o novo mantra dos shoppings” e estava recheado de exemplos nacionais. Conclusão? Isso é realidade em nosso País. Digo mais: é caminho sem volta.
- Supermercados vão alimentar o crescimento dos shoppings abertos. Novas operações ganharão protagonismo como ancoragem de novos empreendimentos. Aqui vale um alerta: o mix nos shoppings americanos sempre foi muito padronizado. Ainda hoje, 50% da ABL dos centros comerciais nos EUA estão concentrados em lojas de departamento, como Macy’s, JCPenney, Nordstrom e outras mais. O restante é dominado por vestuário. No Brasil, o planejamento de mix sempre foi mais criativo. Academias de ginástica, centros médicos, áreas gastronômicas e parques de diversão, além de supermercados, é claro, fazem parte da nossa realidade há um bom tempo.
Resumo da ópera. O relatório do ICSC confirma que o mix dos shoppings vai continuar mudando, tanto para adaptar-se à realidade omnichannel quanto para contemplar novos hábitos dos consumidores.
Porém, o que mais chama a atenção, e você deve ter percebido isso também, é como muitos shoppings brasileiros estão bem sintonizados com as novas tendências.
Aliás, o que para o americano pode ser tendência, para os shoppings brasileiros já é pendência. Ponto para nós.
*Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls.
Fonte: Mercado & Consumo, 26 de maio de 2022