Fui à cidade. Na quinta-feira passada fui ao centro velho da cidade de São Paulo. Sou do tempo em que se ia à cidade. Era como os moradores paulistanos se referiam à sua ida ao centro da cidade. Era onde estavam as maiores atrações culturais da cidade. As melhores lojas ou as mais "chiques". Era onde a elite se encontrava e a classe média transitava.
Era também o símbolo da modernidade e do desenvolvimento. Isso mudou a partir dos anos 60. Hoje a cidade está decadente, e vai piorar.
Passando pela rua Boa Vista, encontrei o lado esquerdo sendo pintado como uma ciclofaixa e vislumbrei que o principal objetivo não é facilitar a vida de poucos ciclistas que vão utilizá-la. A prioridade das vias escolhidas para a implantação da rede de ciclofaixas indica um objetivo claro escamoteado: é um pretexto para eliminar vagas de estacionamento gratuito nas vias públicas de grande movimento.
Faz parte da estratégia do prefeito de reduzir ou eliminar vagas na suposição de que com menos vagas haverá menor atração de carros para as áreas de restrição.
Percebeu que, na inviabilidade de implantar o pedágio, a alternativa é eliminar as vagas gratuitas na via pública e levantar os recursos equivalentes através das multas. Conseguirá, de forma mais simples, alcançar os mesmos objetivos que conseguiria com o pedágio. Sem os mesmos custos e sem o desgaste político.
A suposição do desincentivo ao uso do carro é correta, mas a perda de atratividade não será apenas dos carros, fazendo com que os seus usuários se transfiram para o transporte coletivo. Uma parte não deixará de usar o carro e mudará o seu local de trabalho, buscando outros locais onde possam ter maior facilidade de estacionamento.
Sem vagas para estacionamento gratuito, os que não podem mudar de local de trabalho para manter os seus empregos irão efetivamente se transferir para o transporte coletivo e alguns aderirão ao uso da bicicleta.
Os remanescentes que insistem em usar o carro irão se valer dos estacionamentos privados, na sua maior parte improvisados, pagando os elevados valores cobrados. Com as restrições, os preços aumentarão mais ainda.
Parte dos estacionamentos privados é improvisada e sem as devidas licenças. Alguns não recolhem o ISS, mas a Prefeitura Municipal até agora tem feito "vista grossa".
Para ser coerente com a sua estratégia de reprimir o uso dos carros, a Prefeitura deverá exercer a fiscalização dos estacionamentos no centro com mais rigor.
A consequência desse processo será a escassez de vagas para estacionamento no centro da cidade, provocando uma redução do volume de carros, melhorando as condições de tráfego na suas vias e menor poluição do seu ambiente. Juntamente com essa redução de carros e tráfego ocorrerá uma redução das atividades econômicas de maior renda, substituída pelas de menor renda. Ou seja, um "down grade" que pode ser traduzido como degradação econômica.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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