Tema central no último encontro do G20, o desenvolvimento sustentável movimenta mais que diplomatas e chefes de Estado diante do desafio de superar os gargalos urbanos: o filão das startups de “cidades inteligentes” está em franca expansão.
No Brasil, empresas inovadoras estão usando dados para otimizar processos e ajudar nas tomadas de decisão em áreas que vão do transporte público à gestão de resíduos, passando pela infraestrutura.
A construção de cidades inovadoras é um dos temas que serão debatidos, na próxima terça-feira, no Startup Labs. O evento é uma realização de Pequenas Empresas & Grandes Negócios e O GLOBO, e conta com o Rio de Janeiro como Cidade Anfitriã e parceria de Extra e Valor Econômico.
A inovação já chegou até ao poste de luz. A curitibana SmartGreen implementou sua tecnologia de telegestão de iluminação pública em 20 cidades do país. Nos postes de parques e avenidas, a empresa instala sensores que transmitem informações sobre o consumo de energia e defeitos nas lâmpadas.
Recebidos em tempo real pela prefeitura ou pela concessionária, esses dados permitem regular a intensidade da luz e até apagá-las remotamente para economizar eletricidade. De quebra, a manutenção também fica mais ágil.
Foco no cidadão
Agora, a SmartGreen quer levar a tecnologia para outros equipamentos urbanos, como estacionamentos e estações de medição da qualidade do ar. O plano é oferecer aos municípios uma “plataforma multisserviços”. Nos estacionamentos públicos, sensores poderiam monitorar as vagas disponíveis e informar o gestor público sobre a lotação.
— O foco é o cidadão, para que os municípios possam prestar um serviço de melhor qualidade e que consuma menos recursos financeiros e ambientais — diz Daniel Russi Netto, diretor comercial da SmartGreen, fundada há oito anos.
Já a carioca Minha Coleta resolveu inovar no lixo. Sua plataforma facilita a gestão de resíduos para aumentar o índice de reciclagem nas cidades. A aplicação conecta grandes geradores de lixo — condomínios e empresas que extrapolam o limite para a coleta pública —, cooperativas que fazem coleta privada e separam o que é reaproveitável e indústrias de reciclagem.
Estão cadastrados na plataforma 1.300 geradores de lixo, 600 empresas de coleta e 200 indústrias em 22 estados.
— Só reciclamos 4% do que poderia ser reciclado no país. O modelo de reciclagem já existia, mas era necessário conectar os atores, fazer com que eles se encontrassem de forma mais fácil — diz o cofundador e chefe de operações, Eduardo Azevedo.
Segundo ele, soluções como a Minha Coleta e novas empresas nascentes no nicho encontram cada vez mais demanda, mas não o suficiente para que o Brasil bata as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas e que devem ser alcançados até 2030.
— É preciso mais regulamentação, incentivos e fiscalização para acelerar a reciclagem — defende.
Aquém do necessário ou não, o crescimento de tecnologias que tornam as cidades mais inteligentes é irrefreável diante de eventos climáticos extremos, que se multiplicam com o aquecimento global, argumenta Rafael Martins de Souza, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas (FGV CERI):
— É um bom momento para empreendedores enxergarem oportunidades para suas soluções. À medida que aumentar a percepção da população sobre a necessidade do investimento em inteligência, a tendência é que o poder público se movimente para implementar essas tecnologias. E as cidades brasileiras, mesmo as maiores, ainda têm um longo caminho pela frente.
Do metrô ao ferryboat
Outra área explorada pelas startups é a mobilidade urbana. A paulistana Onboard criou uma bilhetagem eletrônica inteligente para diferentes modais de transporte público. Além de cobrar a passagem, o dispositivo criado pela startup funciona como computador de bordo, gerando dados sobre número de passageiros e consumo de combustível.
As informações são acessadas em tempo real pela concessionária ou pelo poder público, que podem usá-las para planejar rotas e dimensionar as frotas.
Para os passageiros, a tecnologia amplia as opções de pagamento e permite ver em tempo real a localização do ônibus ou do metrô.
A tecnologia está em 36 cidades, em modais como o metrô de Belo Horizonte e o ferryboat de Salvador.
— Com mais informação, a percepção sobre o serviço melhora. Vimos aumento no número de passageiros e no faturamento das operações de transporte — afirma o CEO e cofundador Luiz Renato Mattos.
O Globo - Economia - RJ - 23/11/2024