Por Jorge Hori* - O cenário econômico de 2019 será fortemente influenciado pela eleição presidencial. De momento, um dos cenários mais prováveis é a tentativa de uma política econômica formulada e comandada por Paulo Guedes, com apoio irrestrito do presidente eventualmente eleito Jair Bolsonaro.
Paulo Guedes, como um bom economista acadêmico, crê em Papai Noel. Acredita que um presidente eleito, com cerca de 60 milhões de votos, tem poderes suficientes para obter do Congresso o que propõe, baseado no apoio e pressão do "povo". Pura ilusão.
Vai ter que negociar com uma Câmara de Deputados com uma maioria eleita com muito menos votos populares quantitativos, mas com mais votos dentro do Congresso.
As medidas iniciais, grande parte mediante Medidas Provisórias, gestadas ainda em 2018, e editadas logo no início do Governo, mesmo com o Congresso em recesso, agradarão ao mercado. Se necessário, haverá uma convocação extraordinária em nome da "salvação do País". Mas lembro que o novo Congresso, eleito em outubro de 2018, só assume em fevereiro de 2019. Uma eventual convocação extraordinária seria do Congresso atual.
O mercado gostará, mas ficará em dúvida com relação à segurança jurídica e política. Apesar do "panglossianismo" (otimismo) de Guedes, a aprovação de medidas no Congresso continuará sendo o "do ut des" (“dou para que [me] dês”), isto é, o troca-troca: a negociação de interesses.
A Câmara dos Deputados será praticamente a mesma da atual, talvez um pouco piorada.
Os programáticos, principalmente o PT, perderão espaço: terão menos deputados do que na legislatura atual.
Haverá um avanço dos pragmáticos, com a formação do supercentrão, incorporando o partido líder dos pragmáticos, sempre disposto a integrar e apoiar o Governo de plantão: o MDB.
Quem do MDB irá negociar os votos dos eleitos pelo partido, na Câmara dos Deputados? O Senado tem figuras ilustres do partido. A Câmara não.
Como será a negociação de Bolsonaro com "Boy", alcunha de Waldemar da Costa Neto, com uma bancada puxada pelos votos de Tiririca? Ou não haverá negociação, porque Boy quer manter as posições na área de Transportes.
Guedes quer acabar com o Ministério setorial, assim como privatizar todas as estatais remanescentes na área de logística.
No começo do ano, o Congresso estará voltado para as eleições da mesa. No Senado, os candidatos são os mesmos de sempre. E sempre do MDB. Na Câmara o principal candidato é Rodrigo Maia, com o apoio e concorrência do centrão. O antigo centrão tentará "emplacar "candidato alternativo. Se não conseguir viabilizar isso, irá reconhecer Rodrigo Maia como o seu principal líder. Mas não será o líder de Bolsonaro, se esse vier a ser eleito.
Esse, mesmo se eleito com 60 milhões de votos, não terá Maia como aliado, a menos de negociações que repele.
Mais uma vez o ano só irá começar de fato depois do Carnaval que, em 2019, será no começo de março. Até lá persistirão as incertezas e o mercado na espera.
O único setor que não irá esperar tanto pelo Carnaval, até porque não pode, é a agricultura, com a necessidade de colher a safra de soja, já plantada, e plantar - na sequência - o milho. As decisões dependem mais das perspectivas do clima do que da política brasileira. As políticas norte-americanas e chinesas são mais importantes para o setor do que a brasileira.
Mas há uma pendência que pode depender do novo Governo. Com Guedes a tendência é acabar com o tabelamento do frete. Provavelmente a bancada ruralista voltará em 2019, com mais força, embora em 2018 não tenha radicalizado a questão. Preferiu deixar o Congresso aprovar.
Com o fim do tabelamento, alguns caminheiros tentarão uma nova greve. A sua disseminação e impacto dependerão de dois fatores: o apoio do restante da população que apoiou a greve de maio/junho de 2018 e a reação do novo Governo: irá colocar o Exército para desbloquear as estradas?
As perspectivas econômicas do primeiro trimestre de 2019, dentro do cenário Guedes/Bolsonaro, continuarão sendo de estagnação e expectativas.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
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