Medida funcionará de forma experimental a partir de 1º de fevereiro entre 18h e 2h no Centro da capital. Segundo a CET, 275 vagas serão oferecidas, mas não será permitida circulação veicular nos calçadões. Maestro que se apresenta no Theatro Municipal diz que ação dará mais segurança para público.
Desde que a prefeitura anunciou, na última quinta-feira (19), que mais de 200 vagas de Zona Azul serão disponibilizadas de forma experimental nos calçadões do Centro Histórico de São Paulo, próximo ao Theatro Municipal, o tema repercutiu nas redes sociais e dividiu a opinião de moradores, principalmente os que vivem na região.
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), serão 275 vagas no total de Zona Azul, sendo 200 na Alameda Barão de Itapetininga e nas ruas Conselheiro Crispiniano e Marconi, além de 75 vagas em vias do entorno, que poderão ser utilizadas por meio do aplicativo da Estapar. O serviço funcionará de forma experimental por 60 dias, a partir de 1º de fevereiro.
A prefeitura informou que o objetivo é disponibilizar as vagas para o público que frequenta o Theatro. "Haverá orientação dos condutores para que o acesso seja restrito às vagas, para o momento de chegada e saída, não sendo permitida a circulação veicular nos calçadões em nenhuma outra circunstância", disse o Executivo, em nota.
Em entrevista à TV Globo, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik criticou a medida. "Absurdo de proposta da prefeitura. A tendência em todas as cidades do mundo é reduzir ao máximo os carros e aumentar o espaço para pedestres, bicicletas, transporte coletivo de boa qualidade, barato e eficiente", afirmou.
"Os calçadões estão com problema de manutenção e colocar carros em cima desse piso destrói. Esse piso não é para carro. Existe um para pedestre, outro para carro. Isso vai destruir completamente. Não tem nenhum sentido", ressaltou.
Segundo Raquel, os usuários podem acessar o Theatro Municipal com transporte coletivo. Ela também diz que a prefeitura tinha que ter consultado o Conselho Municipal de Transporte e Trânsito.
"Não querem usar transporte coletivo? Eles podem acessar por táxi. Isso não é absolutamente impossível. Não tem sentido. Uma decisão autocrática da prefeitura que não consultou sequer o Conselho Municipal de Transporte e Trânsito, um órgão que a prefeitura tem para poder discutir as propostas antes de sair e implantar."
"A pedra portuguesa, as pedras que são utilizadas para o calçadão, não têm nada a ver com passagem de carro. Eu não consigo enxergar nenhuma justificativa. Além do precedente que faz tempo que tiveram propostas para Zona Azul no calçadão, para acabar com os calçadões."
'Mais segurança e incentivo à cultura'
Já o maestro João Carlos Martins, que se apresenta com frequência no Theatro Municipal, afirmou ao g1 nesta segunda-feira (23) que defende a medida como uma forma de garantir que o público idoso e com mobilidade reduzida volte a ir às apresentações do Theatro por sentir mais segurança com o veículo perto.
"Às vezes os resultados são melhores que as intenções, e a médio prazo as intenções e os resultados vão se encontrar. Nos últimos anos houve o aumento do cenário de roubo de celular e arrastão na saída do Municipal. Apesar de o Theatro ter ganhado público jovem, aquele mais idoso não vai até o Centro mais, não vai parar o carro a 800 metros de distância nos estacionamentos e não vai pegar Metrô porque não tem algum que pare na porta", diz.
"Com a medida, eu vejo que o público idoso pode chegar com a família com seu carro, ter a proteção inicial durante o concerto, e volta a frequentar o teatro e ter acesso à cultura. Jamais contra o pedestre, jamais quem usa bicicleta. É a favor do público idoso que foi se afastando do teatro por conta dos roubos. No Carnegie Hall, em Nova York, não tem estacionamento, mas tem metrô na porta."
O músico ressalta que fez por 20 anos à prefeitura o pedido de um estacionamento aberto na frente do Theatro.
"O Theatro Municipal não é igual a Sala São Paulo, que tem estacionamento. As 270 vagas não prejudicarão porque serão usadas só durante as apresentações. Não haverá circulação. Sempre pedi que tivesse um estacionamento perto e que tenha policiamento para que ninguém desista de buscar por cultura. Então, fazia anos que queria vagas ali e sempre falei com prefeitos e secretários de cultura", afirmou.
"Sobre o manifesto das pessoas que são contra, eu acho maravilhoso. Democracia é discutir opiniões. Todos têm que ser consultados. Eu não entendo de calçadão, mas de cultura. Então, eu apenas sugeri para que se tivesse uma experiência. Agora, é a CET que vai avaliar".
Ainda conforme o maestro, músicos que se apresentam no Theatro Municipal também foram a favor da medida. "Eles acharam uma maravilha. A cultura é a alma de uma nação. Meu sonho seria que tivesse uma placa igual da avenida Morumbi dizendo 'dia de concerto' no Centro Histórico", finalizou.
G1/BDSP, 24/01/2023