A pandemia trouxe algumas expressões como “o novo normal” ou “não existe mais o normal”. Bem, o balanço de 2021 da Estapar, um dos negócios que indiscutivelmente mais expressou o isolamento das pessoas, veio derrubar essas conclusões. O normal, minha gente, está praticamente de volta. E o ritmo como ele veio se reinstalando está expresso linha a linha no resultado da empresa.
Para quem apostava no home office como uma realidade perpétua e em uma curva longa de retomada das viagens, a Estapar tem dados que demonstram que em janeiro deste ano 82% do movimento nos edifícios comerciais já foi retomado, em relação ao nível pré-pandemia, medido pela receita do negócio. Nos aeroportos (a empresa opera o aeroporto de Congonhas, o maior da cidade de São Paulo), esse percentual está em 87% - chegou a 33% em março de 2021. Já a receita mensal com Zona Azul e shoppings, está até mesmo maior do que foi antes da covid-19 — 104% e 109%, respectivamente sobre 2019.
A recuperação da normalidade ocorreu mês a mês, em 2021, e fez a receita líquida da empresa no quarto trimestre alcançar 88% do patamar pré-pandemia, após crescimento de 43,6% na comparação anual: R$ 265 milhões. No acumulado do ano, somou R$ 835 milhões, uma expansão de 28,6% sobre 2020. Em janeiro, a receita média ficou em 93% do que era nesse mesmo mês antes da tragédia sanitária.
Mas, além das estatísticas, um dos dados que mais deixa André Iasi, presidente da Estapar, animado é a margem Ebitda do quarto trimestre, de 21,8% — praticamente o mesmo patamar pré-covid. “Fizemos um esforço muito forte para gerir custos e adequar o portfólio de contratos. Evoluímos processos e tecnologia”, enfatizou ele em entrevista ao EXAME IN. “São esforços que vão se perpetuar e alavancar o negócio.” Na prática, o que Iasi está dizendo que o crescimento da receita, com a recuperação da tal normalidade, vai agregar margem ao negócio. O Ebitda de outubro até dezembro somou R$ 24,1 milhões, na comparação com R$ 20 milhões um ano antes.
O executivo lembra que a busca por essa maior eficiência não é algo que ocorreu apenas no ano passado. Tão logo ficou clara a dimensão da pandemia, a Estapar foi atrás de gerir sua base de custos e despesas.
O ajuste no portfólio de contratos da Estapar, um negócio controlado por André Esteves (maior acionista do banco BTG Pactual, do mesmo grupo de controle da EXAME) ocorreu sem traumas ao tamanho do negócio. Outra boa notícia para quem achava que a operação de estacionamentos era algo fora de moda num mundo que seria revolucionado pelo home-office e pela era do trabalho flexível. É verdade que a flexibilidade veio para ficar. Mas está distante de ser verdade que isso significa menor movimentação das pessoas. A Estapar terminou 2021 com 650 contratos vigentes, ante 651 existentes um ano antes. O número de vagas sob gestão, na soma das próprias e das administradas, teve alta de 1% e ficou perto de 390 mil.
Na última linha do balanço, porém, os números ainda sentem os efeitos da covid. Excluídos impactos positivos de revisão de portfólio, que afetam o lançamento referente aos arrendamentos mercantis, o prejuízo líquido recuou de R$ 117,7 milhões para R$ 71,4 milhões.
Autotech
Faz anos que a Estapar persegue o modelo de autotech e foi pioneira na América Latina a ter um aplicativo para os usuários administrarem sua vida com estacionamentos, nada de mil tíquetes ou cabines por semana, nada de sofrer para encontrar vagas em grandes eventos. No ano passado, não apenas o movimento das transações digitais do negócio aumentou como a empresa adquiriu o aplicativo Zul, por R$ 75 milhões.
A participação das transações digitais na receita subiu de 3,8% para 12,3% na comparação anual entre o quarto trimestre de 2020 e 2021. "São cerca de R$ 100 milhões ao ano. E não estou falando de TPV, mas de receita", diz Iasi. O número de transações digitais saltou de 2,6 milhões para 7,6 milhões.
Iasi destacou que a compra da Zul deve estar finalizada antes do início de abril. Daí, o negócio deve acelerar a frente digital em um período de 12 a 18 meses à frente, com o desenvolvimento de um modelo de marketplace para o motorista, onde o usuário poderá desde resolver questões como pagar o IPVA até vender o carro — além, é claro, de cuidar da relacionamento com serviços de estacionamento. (Imagem: divulgação)
Fonte: ExameIN, 10/03/2022