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Realidade em laboratórios, veículos voadores dependem de regulação

Até o fim da década, os carros voadores dos personagens de Os Jetsons (série de televisão produzida pela Hanna-Barbera no início da década de 1960) poderão ser vistos fora das telas. Sete décadas após a estreia da série, a tecnologia dá forma a um novo conceito de mobilidade, que mescla eletrificação, sustentabilidade e decolagem vertical. Depois da eletrificação e dos veículos autônomos, a inteligência automotiva está voltada para os eVTOLs (veículos elétricos de decolagem e pouso vertical).

No Brasil, a Embratel está desenvolvendo casos de uso científico de eVTOLs em parceria com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Maria Teresa Lima, diretora-executiva da Embratel para governo, diz que as demonstrações com o ITA aconteceram em outubro de 2021. Os eVTOLs foram desenvolvidos pela startup britânica BellWether e pela empresa americana LuftCar. “Ainda não sabemos como será o uso dos veículos do futuro, mas é certo que novas regulamentações irão surgir e precisarão ser implementadas para as grandes metrópoles não virarem um verdadeiro caos”, diz Lima.

De olho em 5G e cidades inteligentes, em 2021, a Embratel firmou parceria com a Facens para pesquisa em mobilidade urbana, com foco em estacionamentos inteligentes e controle de tráfego. Este ano, a Embratel também se uniu à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) para desenvolver aplicações de veículos autônomos com pesquisas em internet das coisas e uso de 5G. “Para chegar ao veículo autônomo, voador, é preciso preparar as cidades para isso, criar um ecossistema e pensar nas aplicações. Há muitos estágios a serem percorridos antes de as pessoas entrarem nesses veículos para se deslocarem”, afirma Lima.

No setor automotivo, a inteligência na mobilidade tem avançado para eletrificar as frotas, reduzir emissões e tornar os veículos mais digitais. A BMW está investindo em um motor elétrico abastecido com células de combustível de hidrogênio, em testes na Suécia.

Neste ano, em São Francisco (EUA), foi inaugurado, em caráter experimental, o serviço público de robotaxi. Projetados pela Cruise Automation, empresa especializada em veículos autônomos e que tem a GM como maior acionista, os táxis sem motoristas circulam entre 23h e 5h e são acionados por aplicativos gratuitamente. A GM também está investindo no lançamento de automóveis autônomos de luxo e em projetos de eVTOL.

Entre os pesquisadores em mobilidade, os avanços tecnológicos são bem-vistos, mas todos ressaltam a falta de investimento em infraestrutura urbana e a necessidade de mudanças na regulamentação para que a tecnologia, de fato, beneficie a população brasileira. Andrea Santos, professora do programa de engenharia de transportes da Coppe/UFRJ, diz que ainda é necessário investir em infraestrutura e políticas públicas para os veículos elétricos, incluindo os caminhões.

“Não estamos conseguindo nem vingar os elétricos, precisamos de investimentos em infraestrutura, políticas públicas e regulamentação. No caso dos autônomos, ainda está muito embrionário e também esbarra em questões seríssimas de ausência de infraestrutura. Se a tecnologia dos eVTOLs vingar, ela deveria caminhar na linha de serviços”, diz Santos.

Fabio Delatore, docente de engenharia elétrica da FEI e responsável pelo projeto Fórmula FEI Elétrico, alerta sobre as mudanças drásticas que os veículos autônomos vão promover na maneira de usar o transporte. “Não adianta só desenvolver a tecnologia, é preciso uma mudança cultural drástica. A nova geração precisar estar preparada. É necessária uma mudança de comportamento e muito investimento em infraestrutura”, diz.

Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, também ressalta as dificuldades com infraestrutura no país. Não há como comparar a realidade brasileira com países como Espanha, Alemanha e Suíça, onde a estrutura física comporta uma evolução em termos de tecnologia em mobilidade, avalia.

“Estamos muito aquém de qualquer situação para falar em alta tecnologia, veículos autônomos. Caminhões elétricos não decolaram, porque não há infraestrutura de abastecimento. Precisamos de investimentos básicos, não há integração física e tarifária, os transportes não atingem toda as regiões metropolitanas, as pessoas andam a pé, 40% da matriz do transporte é a pé, afirma Quintella.
Fonte: Valor Econômico - 30/03/2022

Categoria: Mundo do Automóvel


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