Por Jorge Hori* - A nova rodada de pesquisas do Datafolha para as eleições de prefeito municipal de São Paulo confirma tendências que estavam aflorando: a queda das preferências de diversos segmentos inicialmente a favor de Celso Russomanno e o crescimento da candidatura Boulos.
Russomanno perde eleitores para os concorrentes em todos os segmentos. O único segmento em que ganha eleitores é no de renda até 2 salários mínimos, por colar a sua candidatura a Bolsonaro e prometer estabelecer programa de renda para esse segmento, em continuidade ao auxílio-emergencial.
A migração dos eleitores de Russomanno não é unidirecional, mas multidirecional, favorecendo o concorrente, segundo o segmento do eleitorado. Por exemplo, no segmento com renda entre 2 e 5 salários mínimos, a principal base de Russomanno, a migração de votos estaria indo para Márcio França. Já entre os mais jovens a migração é para Bruno Covas. O segmento de renda alta tem comportamentos diferentes em função do nível de renda, o que a pesquisa não divulga, mas a maior parte da migração estaria favorecendo Guilherme Boulos.
O segundo turno mais provável e esperado é entre Bruno Covas e Celso Russomanno. Covas está sendo consolidado como um dos candidatos ao segundo turno. Russomanno espera conter a debandada do seu eleitorado para disputar o segundo turno. Aí as eleições seriam amplamente nacionalizadas com a disputa entre Bolsonaro e Doria. Bolsonaro entraria com toda força para derrotar Doria ou para não ser derrotado por este.
Nessa disputa venceria o menos rejeitado, com os oponentes se unindo para derrotar o adversário indesejado. No momento, Celso Russomanno tem índices de rejeição superiores ao de Bruno Covas.
Cenário surpresa, ainda improvável, é Guilherme Boulos chegar no segundo turno, em vez de Russomanno.
A nossa análise não é focada nos candidatos, como se estivessem, pessoalmente, disputando uma corrida, como está no imaginário popular, mas no comportamento dos eleitores. A primeira consideração é que os eleitores não são propriedade dos candidatos, ou cativos. Uma pequena parte é fanática e sectária, atendendo cegamente aos comandos do chefe ou do sacerdote-mor.
No Brasil atual, temos ainda dois chefes de seita. Bolsonaro, com uma pauta bolsonarista que ele mesmo não segue mais à risca. Tem um grande comando sobre os sectários, mas não consegue que todos sigam a sua orientação em relação ao candidato a prefeito. Russomanno não é reconhecido pelos bolsonaristas de raiz como sendo um deles. Lula perdeu muito apoio dos seus seguidores, por não atender aos seus reclamos, por estar inteiramente focado no "Lula Livre". Ele acredita que - inteiramente livre - terá condições de voltar a mobilizar a sua base, mas enquanto isso não acontece, o seu poder de influência eleitoral seria baixo.
A direção do PT, sob mando de Lula, não está focada no reforço das candidaturas do PT, mas em usar a campanha para a defesa do Lula Livre. Usa o "poder econômico" da gestão da maior parcela dos fundos políticos públicos, para submeter os candidatos do partido a destinar o tempo de rádio e TV para a nacionalização das campanhas.
Essa orientação não é seguida pela maioria dos eleitores petistas, inclusive dos filiados, que querem, nas eleições atuais, os seus candidatos mais voltados aos problemas locais.
Jilmar Tatto atendeu à orientação de Lula e com isso teve, em contrapartida, o apoio explícito dele nos programas de rádio e TV.
Quantos eleitores petistas o seguirão? Uma grande parte já migrou para a candidatura Guilherme Boulos e uma parte ainda irá migrar, com o maior conhecimento dele e diante do crescimento nas pesquisas. Quanto mais ele se aproximar de Russomanno, maior será a migração de petistas.
No segundo turno igualmente, a disputa será pelo voto útil, com tendência de maior oposição a Boulos. O seu concorrente venceria, com ampla margem, se fosse Bruno Covas, e uma disputa acirrada entre o menos rejeitado no caso de Russomanno e Boulos.
As eleições municipais de São Paulo estão favoráveis a Bruno Covas, mas isso não será percebido pela maioria dos eleitores como uma vitória de Doria sobre Bolsonaro.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
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