Por Jorge Hori* - Uma expectativa de quase 600 dias afinal ocorreu na semana passada. Lula foi solto. E saiu fazendo o que dele se esperava, o que é da sua natureza: discursos para o seu público, atacando velhos e novos adversários. Toma um espaço que estava monopolizado por Bolsonaro. Com um ponto em comum: falar mal da Globo. Com isso conseguem mais espaço no noticiário da rede, o mais acompanhado pelo público, em geral.
Qual o impacto sobre a economia?
A soltura de Lula não altera o jogo de forças no Congresso. O PT e seus aliados continuarão contra tudo que for de iniciativa do atual Governo. Só serão mais estridentes. Lula não atrai a esquerda "light" que, ao contrário, tenderá mais à independência por não aceitar as pretensões hegemônicas de Lula.
As dificuldades ou facilidades na aprovação do "pacotão Guedes" continuarão as mesmas.
Alguns economistas acham que a soltura de Lula irá inibir os investimentos.
Os investimentos serão parcos, mas não por causa de Lula.
O motor da economia brasileira é o consumo das famílias, ou - no jargão dos economistas - a demanda interna. Esta está travada pelo baixo nível de emprego, com perspectivas de piora.
O noticiário econômico foi tomado pelas informações sobre os avanços tecnológicos trazendo a ameaça da substituição do homem pelo robô, do desenvolvimento da inteligência artificial que substituirá o trabalho humano.
Os que ainda estão empregados estão assustados, com a perspectiva de perda dos seus empregos. Contêm as suas compras, para poupar e ter recursos para um futuro incerto. A multiplicação desse temor leva a uma compressão da "demanda agregada".
Sem aumento da demanda agregada, a economia não irá crescer. Os produtores não irão produzir mais. Os industriais não vão investir no aumento da sua capacidade instalada. Quando muito investirão na modernização do seu parque, mediante equipamentos e instrumentos predominantemente importados.
Diante das novas condições da economia brasileira, os que têm renda estão estufando uma "bolha imobiliária", que pode estourar antes de 2022.
De um lado, há uma forte mudança comportamental por parte dos consumidores de maior renda, que preferem alugar a ter. Isso vale tanto para o carro próprio, como para o imóvel próprio.
No primeiro caso, a introdução de um aplicativo de chamada de táxis (ou particulares equivalentes) que tomou o nome do introdutor viabilizou a mudança de comportamento. No caso dos imóveis, o movimento começou mais restrito, com aumento da demanda de aluguéis de imóveis residenciais e contenção da demanda pela "casa própria" e alguns lançamentos inusitados, com oferta de imóveis de baixa metragem e sem vagas para estacionamento.
Muitas pessoas foram convencidas que, se em vez de investir o seu dinheiro na compra de um imóvel próprio, investissem no mercado financeiro e alugassem um imóvel, os ganhos da aplicação dariam para pagar o aluguel e ainda sobraria.
Com a taxa de juros baixa e decrescente, o mercado está mudando de direção: a aplicação mais rentável seria em imóveis, com garantia de locação.
As grandes imobiliárias estão entrando na moda. Porque percebem uma demanda de rentistas interessados em imóveis para alugar. Essa moda explica o crescimento dos lançamentos, a ampliação da construção de edificações e o aumento de empregos na construção civil.
A aposta é que nos próximos dois a três anos, com os imóveis prontos, estarão plenamente ocupados gerando rendimento aos investidores.
O que poderá não ocorrer, com um crescimento maior de desemprego de trabalhadores mais qualificados substituídos pela tecnologia. Aí a bolha estoura.
Nem o Governo tampouco os empresários estão voltados para o médio prazo na economia. Só estão vendo o "aqui e agora". A economia brasileira dá sinais de melhora. Mas pode ser uma bolha.
A curto prazo, a soltura de Lula em nada mudará os rumos da economia, tampouco da política econômica do Governo. Mas, se ele não conseguir fazer a economia brasileira se recuperar vigorosamente até o final de 2021, Lula será o principal líder da oposição para promover a mudança de Governo: a temida "volta do PT".
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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