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Liberdade amplia calçadas sobre vagas e comerciantes pedem volta dos veículos

Sucesso entre turistas e moradores da capital paulista, a Liberdade terá calçadas ampliadas para acomodar visitantes que costumam lotar o bairro na região central da cidade atraídos pelo comércio de artigos e comidas orientais.

Prevista para ser concluída em nove meses, a reforma orçada em R$ 4,6 milhões irá dobrar a largura de passeios públicos e eliminará vagas de estacionamento rotativo pago – a chamada Zona Azul – nos locais com maior fluxo de pessoas.

Enquanto a Prefeitura de São Paulo instala os primeiros tapumes para iniciar a obra que dará mais espaço a pedestres, porém, a possibilidade de uma nova restrição aos automóveis preocupa comerciantes locais.

Donos de estabelecimentos da região estimam queda de 30% nas vendas desde a chegada ao bairro há quase dois anos da iniciativa municipal que proíbe a circulação de carros aos fins de semana e feriados em trechos das ruas Galvão Bueno, dos Estudantes, Américo de Campos e Thomaz Gonzaga.

Esses empresários relatam que clientes tradicionais deixaram de frequentar o comércio devido à superlotação potencializada pelo programa Ruas Abertas. Eles alegam que os atuais frequentadores tendem a consumir mais no comércio ambulante irregular do que nas lojas.

No dia 22, a Folha acompanhou um encontro de membros da Alma (Associação Liberdade Multicultural Asiática). Fundada no ano passado por donos de oito empreendimentos de médio e grande porte, a entidade prepara um abaixo-assinado para pedir ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) a volta dos carros.

Esses comerciantes argumentam que o alargamento das calçadas será suficiente para acomodar pedestres nos dias de maior movimento e que, após a reforma, não haverá mais a necessidade de barrar os automóveis.

O grupo também pleiteia mais vagas para carga e descarga de mercadorias. O temor é que o estreitamento das pistas agrave congestionamentos durante as manhãs em dias úteis, quando há intenso movimento de furgões de serviço.

Destacando que o projeto da prefeitura está alinhado a práticas urbanísticas contemporâneas que priorizam a circulação de pedestres, o presidente da SP Urbanismo, Pedro Fernandes, afirma que a reforma não prejudicará o trânsito nem o comércio.

Ao mostrar detalhes da obra para a reportagem na última quarta-feira (21), o chefe da empresa municipal reforçou que o espaço que será suprimido das ruas hoje só acomoda carros parados.

Ele também apontou a criação de novos pontos de carga e descarga, mas reforçou a necessidade de aumentar o conforto e a segurança do público que se desloca a pé.

"É notório o aumento do fluxo de pessoas, mesmo durante a semana, e a premissa do projeto é priorizar pedestres em uma região que tem esse conflito com os carros", disse Fernandes.

Pedestres também serão o foco de uma série de outras intervenções previstas, como a substituição do piso asfáltico pelo de blocos intertravados na rua Galvão Bueno e no beco dos Aflitos. Esses locais também terão diminuição de 15 cm para 5 cm do desnível entre calçadas e a pista.

Esse tipo de pavimento induz motoristas a reduzirem a velocidade, segundo Letícia Ferreira, gerente de obras da SP Urbanismo.

Esquinas serão estreitadas para diminuir pontos de contato entre pedestres e automóveis. Existe hoje no bairro um elevado risco de atropelamentos. A prefeitura estima que 80% das travessias ocorram fora da faixa de segurança.

Na praça da Liberdade África-Japão, um acesso a um edifício residencial e a um estacionamento privado será retirado da frente da saída principal da estação do metrô. A passagem será reconstruída em posição oposta à atual. "Isso irá liberar um espaço nobre da praça para pedestres", afirmou Letícia.

Superintendente da distrital do Centro da Associação Comercial de São Paulo, Kiyoshi Hashimoto diz que as reformas são necessárias para atender ao crescimento do turismo. Embora ciente da queixa contra a proibição de carros, ele diz não ver como viável a extinção do Ruas Abertas.

"É a opinião deles [comerciantes], mas como é que vai fazer para passar carro com tanta gente na rua? Quanto aos ambulantes, nós estamos conversando com o coronel Salles [o subprefeito da Sé, Marcelo Vieira Salles]", contou Hashimoto.

Em nota, a subprefeitura informou realizar fiscalizações regulares durante o Ruas Abertas, mencionando uma média de quase 30 apreensões diárias no local. O órgão também afirmou que 70% dos ambulantes que atuam na região estão regularizados.

Implantado na Liberdade em outubro de 2023, o Ruas Abertas foi criado em 2016 e se tornou um marco ao fechar a avenida Paulista para os carros aos domingos. Na época, críticos contestaram possíveis transtornos para o acesso aos hospitais do entorno.

Preocupações com hospitais também entraram na discussão sobre o programa na Liberdade e, por isso, o perímetro original foi reduzido. Mas na Paulista o conflito com o comércio não era uma questão. A avenida cartão-postal da cidade não tinha nas lojas de rua a sua principal atração.

A reforma em curso na Liberdade não é a única iniciativa da gestão Nunes que mira o potencial turístico e econômico do bairro.

Existe atualmente um PMI (Procedimento de Manifestação de Interesse) aberto pela prefeitura para encontrar parceiros privados interessados em construir três grandes lajes para interligar os viadutos do bairro que passam sobre a avenida Radial Leste.

O projeto Esplanada Liberdade, cuja última etapa divulgada foi a realização de consulta pública no final do ano passado, é significativamente mais caro do que a atual requalificação.

Enquanto a reforma custará R$ 4,6 milhões ao Fundurb, o fundo municipal de R$ 1,1 bilhão abastecido com a taxa cobrada para construção de prédios, as futuras lajes e demais equipamentos deverão demandar investimento de R$ 333 milhões, sendo até R$ 149 milhões dos cofres públicos.

Folha de S. Paulo - Cotidiano - SP - 28/05/2025

Categoria: Geral


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