Para líderes de entidades que representam o foodservice, inflação e renda brecam crescimento neste ano
Após dois anos de restrições por conta da pandemia de covid-19, o foodservice se recupera gradativamente ao passo que o consumidor vai retomando seus hábitos, mas os níveis pré-pandemia só devem ser atingidos em 2023, na avaliação de líderes de entidades que representam o foodservice.
“O momento é bastante desafiador. Fechamos 2021 com queda relativa e o primeiro trimestre de 2022 já trouxe um crescimento. Esperamos que o segundo trimestre seja melhor porque o consumidor está retomando seus hábitos. Apesar de ele ter gostado do delivery, essa operação de venda digitalizada, ele quer voltar a frequentar o salão”, afirma Ingrid Devisate, diretora-executiva do Instituto Foodservice Brasil (IFB).
Ingrid acredita que o foodservice voltará a ter um crescimento em torno de 7,5%, como o que ocorreu entre 2011 e 2019, a partir de 2023. Para sair na frente, nesse momento de inflação e maior comprometimento da renda, ela sugere que o operador aposte em parcerias com fornecedores e na melhoraria de gestão.
“Para melhorar e conseguir enfrentar todos os desafios, é preciso fazer parcerias com os fornecedores que entendem o seu negócio e focar em produtos que já são know-how dentro do negócio, de que o consumidor já gosta, além de olhar dentro da sua gestão para ver o que é melhor em termos de competitividade, especialmente delivery e outros meios de vendas nos canais digitais”, afirma.
Na mesma linha, Paulo Solmucci, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), afirma que o momento é desafiador, mas há sinais de retomada. O executivo citou também que o faturamento do Brasil está bom, principalmente se comparado com o dos Estados Unidos, que sofrem para bater os padrões de 2019.
“A inflação aqui, como lá [Estados Unidos], ameaça. Entretanto, aqui tivemos o dobro de uma inflação normal e lá dez vezes mais que o normal. Nos EUA, eles estão tendo mais dificuldade de lidar com a inflação”, explicou.
O presidente da Abrasel também destacou que, por conta da pandemia, a maioria dos empreendedores precisou buscar ajuda e pedir empréstimos, e esse fato causa impactos neste momento de retomada. De acordo com pesquisa recente da Abrasel, 28% dos estabelecimentos ainda estão operando com prejuízo e um terço, no equilíbrio.
“Com a alta da Selic, as parcelas cresceram muito. Então, dias desafiadores virão pela frente ainda que o nosso mercado se comporte de uma maneira muito positiva e especialmente quando se compara com o custo de alimentação dentro de casa”, finaliza Solmucci.
Aprendizados da NRA Show 2022
Ingrid e Solmucci participaram em São Paulo, na última semana, do Connection NRA Show, festival com executivos de toda a cadeia do foodservice que debateu os aprendizados da NRA Show 2022 de Chicago (EUA).
Entre as tendências apresentadas no evento de Chicago, Ingrid destaca uma evolução do plant-based com vários fornecedores de produtos e serviços que agregam mais valor e uma percepção de qualidade, seja para proteína, seja para outros tipos de produtos, como sobremesas.
“Ainda não vejo um grande número de consumidores que fazem a escolha por produtos plant-based no Brasil, mas é um caminho para se olhar e se preparar com fornecedores que distribuam produtos de boa qualidade e satisfaçam em torno de sabor, cheiro e ingredientes”, disse Ingrid.
Outro destaque das visitas técnicas feitas pela delegação levada pela Gouvêa Foodservice é a proposta de entregar ao consumidor o que ele precisa. Como exemplos, Ingrid cita o Dom’s Kitchen & Market e a rede de conveniência Foxtrot
“Essas foram operações que me chamaram muito a atenção. O Dom’s porque tem uma filosofia clara do que é importante, com a cozinha como foco central, com um serviço completo e uma comida diferente. Já a Foxtrot traz uma entrega de conveniência de alto nível, com produtos handmade e de private label, que garantem uma margem maior para o operador de foodservice”, afirma.
Fonte: Mercado & Consumo, 06/06/2022