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'Fadiga digital vai nos dar um dos melhores Natais da história', diz presidente da brMalls

Os shoppings sempre funcionaram como minicidades, um microcosmo à parte em que o consumidor encontra tudo e socializa. Mas, a partir da pandemia, quando os empreendimentos ficaram cerca de seis meses fechados, incluindo as restrições de horário, as redes sociais avançaram nas vendas. Foi preciso rever o modelo de negócio e adaptá-lo para a internet.

"As lojas se tornaram um hub logístico, um ponto próximo à residência do consumidor, o que facilita a entrega do produto comprado online ou a comida que veio do delivery", diz Ruy Kameyama, presidente da brMalls, a maior administradora de shopping centers do país, com 31 centros de compras no portfólio. Entre eles, Villa-Lobos (SP), Tamboré (SP), Estação BH (MG), NorteShopping (RJ), Tijuca (RJ), Goiânia (GO), Recife (PE), Amazonas (AM), Catuí (PR) e Iguatemi Caxias do Sul (RS).

Em um mundo onde os lojistas passaram a explorar os canais digitais para manter as vendas, interessa para a brMalls fincar o pé na internet (onde já atua por meio do Delivery Center, que faz a operação das vendas digitais para os lojistas) e aumentar os atrativos para o consumidor, alvo de novos programas de fidelidade. O público, por sinal, se mostra cada vez mais interessado em voltar a passear pelos corredores dos centros de compras.

"Na retomada, os nossos shoppings estão ganhando participação em relação ao varejo de rua", diz Kameyama. "Na pandemia, o varejo nas ruas foi muito mais impactado, porque não tem planejamento de mix, não tem lojas âncoras, não há a mesma experiência em segurança, ambientação. O shopping é o quintal do brasileiro, onde ele se sente em casa."

O executivo vislumbra que o futuro dos shoppings passa por se tornarem centros gastronômicos. "Os restaurantes são as novas lojas-âncora", diz Kameyama, que vem investindo em uma bandeira própria da brMalls em gastronomia, o Taste Lab, um espaço que reúne chefs em ascensão que se revezam na oferta de pratos sofisticados em versões acessíveis.

"O shopping é como uma minicidade, conseguimos trazer o que o consumidor quer", afirma Kameyama, que aposta em espaços de e-sports, como as arenas e circuito de games. "Dentro dos nossos shoppings temos universidades, escolas de ensino primário e fundamental, cursos de línguas, clínicas e até hotéis", afirma. "É comodidade em um ambiente organizado e seguro, o que é muito importante neste momento, porque a pandemia não acabou".

Apesar disso e da inflação em alta, Kameyama aposta na retomada no curto prazo. "Esperamos neste quarto trimestre um dos melhores Natais da história", diz ele. "De um lado, o programa de vacinação vem avançando. De outro lado, a gente percebe essa vontade do consumidor de socializar. Ver e ser visto volta a ser uma realidade".

No dia 11, a empresa apresentou seus resultados do terceiro trimestre: lucro líquido de R$ 57,1 milhões, um salto de mais de sete vezes em relação ao mesmo intervalo de 2020.

As pessoas estão com saudades de bares e restaurantes, de cinemas e de fazer compras em lojas físicas. Mas a renda caiu. Como vê essa retomada mais econômica? O nível de inflação é um ponto de atenção, mas a indústria de shoppings já passou por outras crises antes. Temos um mix adaptável o suficiente, já planejado para diferentes fases do consumo. A incerteza de agora, da retomada econômica, é mais fácil de lidar do que o nível de incerteza que enfrentamos nos últimos 18 meses, de crise sanitária, em que ninguém sabia o que iria acontecer. Há uma clara sensação de que o pior já passou, e que agora estamos em uma trajetória de recuperação.

Além disso, existe uma fadiga digital, as pessoas querem restabelecer conexões humanas. Há uma demanda reprimida enorme por socialização, encontros, passeios. Eu tenho duas filhas pequenas. Uma das coisas que elas mais gostam é de frequentar shoppings – porque associam à diversão, ao encontro com a família, com os amigos. O shopping reúne tudo de bom que tivemos que abrir mão durante a pandemia. As pessoas estão curiosas em ver vitrines, passear, conhecer as novidades, tudo isso em um ambiente organizado e seguro, o que é muito importante neste momento, porque a pandemia não acabou.

A variante delta não preocupa?
Acompanhamos de perto a questão da variante delta, especialmente no Rio. Mas vimos que o nível de ocupação dos hospitais se manteve sob controle. Muito disso se atribui ao avanço da vacinação. À medida que a imunização cresce no quarto trimestre, a expectativa é que a variante não tenha um impacto tão relevante.

A julgar pelo movimento até agora, qual a sua expectativa para as vendas de fim de ano? Esperamos neste quarto trimestre um dos melhores Natais da história. De um lado, o programa de vacinação vem avançando, o que dá segurança aos consumidores. De outro lado, a gente percebe essa vontade de socializar, de entretenimento, em um ambiente seguro como os nossos shoppings. Há um aumento do tempo médio de permanência, mês após mês. O consumidor não vai mais só para uma compra rápida: ele olha vitrine, toma um café, faz um lanche, vai ao restaurante. Antes da pandemia, cada consumidor passava em média 90 minutos no shopping. No ápice da crise, caiu pela metade, foi a 45 minutos. Hoje está em torno de 1 hora. Por essa combinação de fatores, temos ótimas expectativas tanto em relação à Black Friday quanto ao Natal. Em vendas, estamos praticamente no mesmo patamar de 2019.

Mas muitos lojistas, em geral, fecharam as portas durante a pandemia. Como está a taxa de ocupação?
Está em 96%, muito próxima também da observada em 2019, de 97%. Chegou a cair a 95% no momento mais agudo da crise. A inadimplência também vem melhorando. Para se ter uma ideia, assinamos mais de 300 contratos com novos lojistas este ano, isso significa 90% do volume assinado no mesmo período de 2019. Há sinais claros de uma retomada acelerada, com ênfase em marcas de gastronomia, serviços e moda.

Quais os segmentos com maior movimentação nos shoppings?
Tanto aqui quanto no exterior, as categorias mais procuradas são as experiências, com destaque para os restaurantes. Na sequência, vêm cosméticos (maquiagem, cuidados com a pele, bem-estar), moda (atualizar o look, renovar o guarda-roupa para voltar a circular), joalherias, além de tudo o que envolve saúde e bem-estar (salões de beleza, clínicas de estética, botox, academias). Ver e ser visto volta a ser uma realidade –e isso se reflete no mix dos shoppings neste pós-Covid. A gente se encaixa bem neste retorno com segurança.

O pessoal cansou da comida por delivery? É o que explica o crescimento maior dos restaurantes?
Acho que cansou (risos). No retorno pós-Covid, os restaurantes são a preferência número um dos consumidores, eles são as novas âncoras. ‘Food is the new fashion’ [alimentação é a nova moda]. Antes os consumidores escolhiam os shoppings de acordo com as marcas, mas agora escolhem cada vez mais pensando nos restaurantes. A nossa oferta de restaurantes com serviço cresceu 54% nos últimos cinco anos, é bastante expressivo. Gastronomia como um todo já representa cerca de 20% da área dos nossos shoppings, excluindo as âncoras. (Obs.: A reportagem não está na íntegra)
Fonte: Folha de S. Paulo, 20/11/2021

Categoria: Geral


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