Os carros elétricos são uma das soluções apontadas como fundamentais para reduzir as mudanças climáticas no planeta. Aliás, o aquecimento global vem sendo debatido há décadas e voltou a ganhar as manchetes dos jornais. Para ajudar a reverter esse quadro, há vários esforços sendo feitos de modo a reduzir as emissões de poluentes. E uma das principais apostas é a ampliação da oferta de carros elétricos, que vem acelerando em países como os Estados Unidos, bem como os da União Europeia. No Brasil, essa transformação ocorre de forma lenta. Porém, vem se consolidando.
Ainda com vendas reduzidas, o mercado de carros eletrificados vai crescer a passos largos no Brasil nos próximos anos. Se atualmente a participação de carros elétricos e híbridos nas vendas não passa dos 2%, no caso do segmento de leves, a estimativa é que em 2030 eles representem de 12% a 22% dos emplacamentos totais. Ou, ainda, entre 32% e 62%, dependendo do rumo que o setor tomar no País.
Os números fazem parte do estudo “O Caminho da Descarbonização do Setor Automotivo” encomendado pela Anfavea, a associação que reúne as fabricantes do País, à Boston Consulting Group (BCG). Para “mergulhar de cabeça” nesse esforço global, algumas montadoras têm investido pesado no desenvolvimento de carros elétricos e híbridos. Bem como na ampliação da rede de recarga. Ou seja, algo fundamental para que ocorram mudanças.
Volvo na vanguarda
A Volvo, por exemplo, não oferece mais modelos movidos exclusivamente a gasolina ou diesel. Aliás, o Brasil é o segundo país do mundo onde a marca sueca deixou de vender carros com motores apenas a combustão.
Assim, a primeira marca no País a ter somente veículos eletrificados (híbridos plug-in) começou a oferecer o 100% elétrico XC40 Recharge Pure Electric em maio. O SUV teve as 300 unidades destinadas ao Brasil vendidas em menos de 15 dias. Com isso, um novo lote de 50 carros foi encomendado. Porém, todos foram vendidos e devem começar a chegar às mãos dos compradores em setembro. Segundo a Volvo, o preço sugerido, que era de R$ 389.950, será reajustado para os carros que vierem nos próximos lotes.
Seja como for, a Volvo não está sozinha nessa corrida. Para pegar carona nesse 1,3 milhão de elétricos que devem ser vendidos até 2035, segundo a Anfavea, a Stellantis vem investindo pesado no processo de eletrificação veicular no País. Nesse sentido, acaba de lançar o 500e. Ou seja, o primeiro de vários modelos 100% elétricos que a Fiat promete desenvolver.
Na versão de topo da linha, Icon, o compacto com estilo retrô tem motor elétrico com potência equivalente a 118 cv e torque de 22,4 mkgf. Segundo dados da fabricante, o 500e pode acelerar de 0 a 100 km/h em 9 segundos e chegar a 150 km/h.
Além disso, o 500e tem autonomia para rodar até 320 km. Porém, pode chegar a 460 km, dependendo do modo de guiar do motorista. De íons de lítio, as baterias têm 42 kWh. São, nesse sentido, recarregáveis em tomadas comuns de 110V e 220V. Bem como em carregadores de parede (wallbox) e em estações ultrarrápidas de 85 kW com corrente contínua.
Se por um lado o preço do carro elétrico é alto, por outro, há formas de amortizar o investimento. Por exemplo, o 500e tem tabela de R$ 239.990. Portanto, é caro na comparação com o modelo a combustão que era vendido no Brasil até 2017 por cerca de R$ 60 mil. Entretanto, os preços dos combustíveis subiram 51% apenas em 2021. Assim, “abastecer” um carro elétrico acabou ficando mais interessante.
Energia elétrica é vantagem
De acordo com a Fiat, o custo da carga completa das baterias do 500e gira em torno dos R$ 35. Vale lembrar que isso pode mudar de acordo com a localidade e a tarifa cobrada pela distribuidora. Porém, quem tem um 500 com motor a combustão paga, no mínimo, R$ 270 para encher o tanque de 45 litros. Isso no Estado de São Paulo, onde a média do preço do litro da gasolina gira em torno de R$ 6.
Peugeot e Citroën também entram na dança
O Peugeot 208 e-GT será outra estreia elétrica de uma das marcas do Grupo Stellantis. Prometido desde setembro de 2021, quando a nova geração do hatch chegou ao País, a versão elétrica aposta alto na esportividade. Feito e Trnava, na Eslováquia, o modelo tem baterias de 50 kWh e motor que entrega 136 cv e 26,5 mkgf. Segundo dados da marca, para acelerar de 0 a 100 km/h são necessários 8,5 segundos. A velocidade máxima é de 150 km/h.
Assim, o 208 e-GT deve inaugurar a linha 100% elétrica da Peugeot no Brasil. A previsão é que a estreia ocorra ainda em agosto. Seja como for, o hatch é recheado de tecnologias avançadas. Por exemplo, há o Peugeot i-Cockpit 3D, que tem quadro de instrumentos holográfico em 3D e central multimídia com tela de 10″ sensível ao toque. Há conexão com celulares por meio do Android Auto e do Apple CarPlay e carregamento de smartphone por indução. Ou seja, sem uso de cabo.
Segundo a marca, o carro também tem o Peugeot Driver Assist. Ou seja, são tecnologias de assistência ao motorista, como alerta de risco de colisão em dois níveis. Bem como frenagem automática de emergência e leitura das placas e sinais de trânsito. Além disso, a autonomia chega a 340 km, baseado no ciclo europeu WLTP.
Por sua vez, a Citroën não revelou qual modelo elétrico deve trazer ao Brasil. Entretanto, na Europa, onde a venda de carros com motor a combustão será proibida em 2035), a marca oferece o e-C4 como parte da linha C4. O modelo utiliza baterias de 50 kWh e tem motor elétrico de cerca de 136 cv (100 kW). O modelo já foi registrado no Brasil. Além dele, a marca francesa tem o SUV C5 Aircross em versão híbrida plug-in.
GM
A GM também vem ampliando a aposta nos elétricos. No Brasil, acaba de lançar o Bolt renovado. Apesar de o visual ter sido repaginado e da ampla lista de equipamentos (como a nova central multimídia e o wi-fi a bordo), o hatch mantém as baterias (atualizadas) de 65 kW. Como resultado, a autonomia chega a 416 km.
Segundo a fabricante, o motor elétrico gera 203 cv e 36,7 mkgf. Como resultado, o Chevrolet pode acelerar de 0 a 100 km/h em 7,3 segundos. Além disso, embora o preço sugerido seja de R$ 317 mil, o primeiro lote de 20 unidades do modelo foi vendido em poucas horas.
Mini e JAC
Recém-lançado no Brasil, o Mini Cooper S E começou a ser entregue neste mês. Com estilo retrô inspirado no do modelo criado em meados do século passado, o inglês tem motor 100% elétrico. Portanto, não gera poluentes ao rodar.
Assim, o hatch, que parte de R$ 239.990, tem três versões de acabamento e motor elétrico de 184 cv de potência. Segundo a marca, são 27,5 mkgf de torque. Além disso, as baterias de 32,64 kWh garantem autonomia de até 234 km entre as recargas.
A princípio, a marca inglesa ofereceu um carregador wallbox grátis aos compradores. O sistema, que sai por R$ 7.900, pode recarregar as baterias totalmente em 2h10m. Segundo informações da Mini.
Por sua vez, a JAC Motors, que acaba de lançar o E-JS4 (confira aqui) no Brasil, promete fazer barulho com o E-JS1. Portanto, com preço sugerido de R$ 149.900, será o carro elétrico mais barato à venda no Brasil. Seja como for, o compacto chinês é feito sobre a mesma plataforma do iEV20. Além disso, tem baterias de 30,2 kWh que lhe garantem 260 km de autonomia. Além disso, o motor elétrico produz o equivalente a 61 cv de potência. Bem como 15,3 mkgf de torque. O compacto é o primeiro fruto da união entre a JAC Motors e a Volkswagen.
Mas a descarbonização no Brasil, não seguirá apenas a cartilha do lançamento de carros elétricos. Os biocombustíveis também são um caminho possível. Aliás, para muitos essa linha é a mais plausível no País. Além de já haver regulamentações a respeito, a viabilidade se dá pelo tamanho da frota de automóveis com motor flexível. Bem como pela existência de uma infraestrutura de produção e distribuição de etanol.
Assim, esse é um dos caminhos apontados pela Volkswagen do Brasil. Recentemente, o presidente da empresa para aAmérica Latina e Brasil, Pablo Di Si, enfatizou a aposta no etanol rumo à mobilidade sustentável. Segundo o executivo, os veículos híbridos com motor flexível são a saída para uma região sem infraestrutura para carros elétricos, como o Brasil.
No entanto, Di Si diz que essa estratégia pode ser complementar à oferta de etanol e outros biocombustíveis. Seja como for, o foco é a redução das emissões de CO2. Em comparação com o carro elétrico, ele leva em conta todo o processo. Ou seja desde o plantio da cana até a fumaça que sai pelo escapamento. Mesmo defendendo os carros eletrificados movidos a etanol, Di Si não revela as apostas da marca em produtos ou sistemas específicos.
Porém, enquanto os planos não saem do papel, uma possibilidade seria a venda da família elétrica ID no Brasil. Questionada pelo Jornal do Carro, a fabricante não revelou se há planos nessa linha. Mas a aposta faz sentido. Afinal, a marca investiu alto em carregadores de elétricos no Brasil. Nesse sentido, juntou-se à Audi e à Porsche. As três são do mesmo grupo.
Seja como for, há rumores no mercado sobre concessionários Volkswagen que estariam sendo preparados para vender dois carros elétricos. Ou seja, o ID.3 e o ID.4. Embora a VW não confirme, este último é o mais viável no Brasil. Afinal, trata-se de um SUV de porte grande, que pode ser o carro do topo da gama da VW no País. Com dois motores elétricos que geram 306 cv e tração 4×4, o modelo tem autonomia para rodar até 522 km.
Renault Zoe
Da Renault, o Zoe é um grande sucesso de vendas na Europa. Nesse sentido, foi o carro elétrico mais vendido no continente em 2021. No Brasil, o hatch chegou com tudo como parte da linha 2022 em abril. Assim, incorpora novo visual e tem duas opções de acabamento. Com preço sugerido na casa dos R$ 200 mil, o carro tem baterias de íons de lítio de 52 kWh. Segundo a marca, a autonomia é de até 385 km, a potência do motor elétrico gira em torno dos 135 cv e o torque, de 25 mkgf. Como resultado, o novo Zoe pode acelerar de 0 a 100 km/h em 9,5 segundos.
Nissan
Uma das primeiras marcas a vender carros elétricos no País foi a Nissan. O Leaf, primeiro carro movido a eletricidade feito em larga escala, teve, recentemente, o lote encomendado para Brasil ampliado em 500 unidades. Para vender tudo isso a marca vai ampliar de sete para 44 sua rede de concessionárias treinadas para trabalhar com carros elétricos. Porém, vale lembrar que nos dois anos em que está disponível no Brasil, o Leaf somou apenas 200 emplacamentos.
O Leaf surgiu no País em 2010. De lá para cá, o elétrico, que tem preço de cerca de R$ 240 mil, foi testado por empresas de táxi. Além disso, fez parte da lista de opções de empresas de compartilhamento e está na frota de locadoras. Ou seja, é oferecido por meio de programas que, afinal, ajudam a desmistificar o funcionamento dos carros elétricos.
Como deve ser o futuro elétrico
O fato é que, no Brasil, o caminho a percorrer rumo à redução das emissões ainda é longo. Afinal, eletrificar a frota de carros que roda no País exigirá a instalação de 150 mil carregadores. Ou seja, ao custo de R$ 14 bilhões. De acordo com “O Caminho da Descarbonização do Setor Automotivo”.
Cabe ressaltar que, em 2035, 82% da frota circulante de veículos leves teria motores apenas a combustão. Ou seja, também é preciso implementar programas como a inspeção veicular ambiental e a renovação de frota. Portanto, isso exigirá investimentos pesados seja do governo, da iniciativa privada e da própria indústria de veículos. O fato é que, mesmo com o lançamento e a ampliação da oferta de carros menos poluidores, o Brasil está muito distante da eletrificação total.
Por fim, isso condiz com a percepção do presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes. De acordo com ele, outros países já definiram suas metas de descarbonização. Bem como os caminhos para chegar a elas. “O Brasil, que é um dos principais mercados para o setor de transporte no mundo, não pode mais perder tempo”.
Fonte: Estadão/Jornal do Carro, 17/08/2021