Adaptação
"O mundo atual é muito diferente daquele de 1972", diz Cerqueira Junior. "O ano de 1973, por exemplo, foi muito difícil para o Brasil, que, na época, era extremamente dependente do petróleo. Fomos acompanhando todo o movimento do mercado. Já em 2001, para citar outro exemplo, o ataque às Torres Gêmeas afetou o nosso segmento de hotelaria. Dois anos depois, problemas com o PIS e Cofins pesaram nos negócios", explica, completando, que, "durante todo este tempo, a empresa foi evoluindo". De acordo com o sócio, a capacidade de adaptação às novas realidades foi fundamental para a consolidação da bandeira, mas agora o cenário é outro. "Hoje, as grandes corporações são geridas profissionalmente", assinala o executivo. Nesse ambiente, Lomonaco revela que a Estapar começou "a falar sério" com possíveis parceiros na metade do ano passado, embora não fosse algo formal, para consolidar sua liderança de mercado e impulsionar o processo já começado de profissionalização. "Não tínhamos resoluções consistentes, nem estávamos nos preparando para uma oferta pública inicial de ações. Estávamos somente "preparando a casa" para iniciar um processo de crescimento sustentável", conta. Menos de um ano depois, em maio de 2009, a BTG passou a fazer parte do controle do conglomerado, por meio de um acordo para a compra de 50% da rede por fundos de private equity administrados pela BTG Gestora de Recursos. As companhias não revelam o montante envolvido na negociação, mas Cerqueira Junior ressalta que a parceria não aconteceu por conta de um interesse financeiro, mas sim estratégico. "Saímos de uma empresa de prestação de serviços para uma empresa de negócios", define Cerqueira Junior. Com a operação, a rede de estacionamentos terá acesso a capital primário da BTG, em uma época em que o custo de financiamento tem subido e o acesso ao crédito se torna cada vez mais difícil, por conta da crise global. Outro ponto destacado pelo sócio é que, com a operação, a Estapar poderá entrar no negócio de real estate. "Pretendemos alocar recursos para comprar ativos imobiliários, construir garagens e investir em concessões, perpetuando, assim, o negócio", explicaram, em nota, José Miguel Vilela Jr. e Marcelo Hallack, executivos da BTG responsáveis pelo investimento. Na visão de Cerqueira Junior, esta "é uma medida estratégica que permitirá que a BTG e a Estapar cresçam no lucrativo mercado imobiliário brasileiro", já que seus negócios estão intrinsecamente ligados ao desenvolvimento de áreas urbanas. "Precisamos de mais garagens subterrâneas, por exemplo, e as empresas do ramo não têm recursos para esses investimentos. A sofisticação financeira vai nos permitir entrar em negócios que atualmente nenhum outro player deste mercado pode, em uma estratégia que dará à companhia uma vantagem competitiva inédita no setor", sublinha Lomonaco. Além disso, com a aquisição, a companhia de estacionamentos passa a ter acesso à rede de relacionamento dos gestores dos fundos, o que pode facilitar as alianças estratégicas com outros negócios que integram o portfólio da BTG e a conquista de novos clientes e fornecedores. A companhia financeira, por sua vez, consegue acessar um mercado crescente, uma vez que a frota de carros do Brasil vem aumentando progressivamente. A demanda por espaços para estacionamento de veículos continua crescendo nas principais regiões metropolitanas do País, e os preços seguem avançando, na esteira da valorização dos preços de imóveis residenciais e comerciais, explica Cerqueira Junior, para quem ainda há bastante espaço para crescimento neste setor. Para o sócio e diretor executivo da Stratus Investimento, Álvaro Gonçalves, a avaliação está correta. Ele explica que o segmento de estacionamentos sempre apresentou boas margens dentro do setor de serviços. "Todo setor fragmentado tem potencial de consolidação e pode ser alvo de fundos de private equity", afirma. Além do capital, os fundos levam para os negócios nos quais investem práticas de gestão que impulsionam o crescimento, segundo Gonçalves. Algumas das práticas trazidas pelos fundos estão relacionadas ao exercício de governança corporativa e de ampliação.
Ritmo frenético de crescimento
O BTG (Banking and Trading Group), banco de investimento que tem como sócios André Esteves e o ex-presidente do Banco Central (BC) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) Pérsio Árida, além de ex-executivos do UBS Pactual, começou suas atividades em setembro do ano passado e já acumula em seu carrinho de compras grandes aquisições. A instituição, que começou a ser formada com a saída de Esteves do UBS Pactual, há um ano, comprou em outubro o Lehman Brothers do Brasil, uma empresa não financeira, que realiza atividade de trading e originação de ativos, visando a acelerar o crescimento do grupo. Dois meses depois, a BTG comprou de uma vez só duas redes de postos de combustíveis: a Via Brasil, pertencente ao grupo Vibrapar, e a Aster, de Carlos Alberto de Oliveira Santiago. O próximo alvo foi o grupo de companhias Lentikia, gestora de recursos que gerencia o Brocade Fund, com total de recursos de aproximadamente US$ 700 milhões ao final de 2008. Como desdobramento do negócio, Patrice de Camaret, co-fundador do grupo e CEO (Chief Executive Officer) do Brocade, virou sócio da BTG e membro do comitê executivo da companhia. Um mês depois, enfrentando a pior crise em 147 anos, o suíço UBS decidiu vender para a BTG sua unidade brasileira, o UBS Pactual. Pelo acordo, a companhia deve pagar US$ 2,475 bilhões pelo maior banco de investimento brasileiro. Junto com outros sócios, Esteves tinha vendido o Pactual para a instituição suíça em 2006. Quando foi formada, a BTG informou que seu plano era investir recursos próprios no mercado de capitais brasileiro e internacional e também em operações de compra de participações em empresas brasileiras.
Fonte: Revista Investidor Institucional (SP), junho de 2009