Por Jorge Hori* - A economia brasileira evoluiu positivamente, ainda que lentamente, até novembro de 2019, tornando-se cada vez mais dependente do consumo das famílias.
Todos os demais itens da demanda, que "puxam" a evolução da economia, fraquejaram. As exportações de commodities não evoluíram fortemente, por conta da guerra comercial entre os EUA e a China, abalando todo o comércio mundial. E as exportações industriais brasileiras ancoradas nas operações com a Argentina sofreram um grande baque com a crise financeira do país vizinho.
O consumo das famílias depende, fundamentalmente, da massa salarial e com o elevado nível de desemprego as perspectivas não pareciam favoráveis, dentro dos paradigmas tradicionais.
Mas ocorreram mudanças de comportamentos dos consumidores, o comércio se adaptou e promoveram uma evolução positiva na indústria de transformação, até setembro, com resquícios para outubro e grande movimentação no varejo em novembro e dezembro.
A animação do consumo familiar sofreu um grande baque com o vertiginoso aumento da carne bovina.
A China sabia da disponibilidade de carnes no Brasil, porque ela mesma estava contendo as compras, retardando a liberação de frigoríficos e existência de estoques, nos pastos.
Com o surto, o setor que estava com os preços contidos desde a Operação Carne Fraca aproveitou para "repor" as perdas, usando as exportações para a China como argumento.
O ano de 2020 deverá assistir à "normalização" do mercado de carne bovina, com um patamar de volumes superior ao de anos anteriores, mas sem os surtos do final de 2019. Os preços terão uma pequena queda, mas também num patamar superior.
A economia brasileira vinha bem até outubro, mas com a disparada da carne acabou com um índice de inflação acima do centro da meta e será lembrada como o ano da "carne cara". Ou da "inflação do boi".
O ano começou com incidentes maiores: o conflito EUA x Irã impactando o preço do petróleo.
Jair Bolsonaro resolveu em 2020 assumir a economia, com duas atitudes temerárias: coordenar as medidas em relação ao aumento dos combustíveis, o que sempre acaba com uma desastrada intervenção pública, e não "taxar o sol", desautorizando e desprestigiando a Agência Reguladora.
Com essa atuação irá piorar as condições de atração de investimentos externos.
* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.
NOTA:
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