Desde o início de fevereiro, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro ganharam dois hubs de recarga para veículos eletrificados. A Estapar, uma das maiores empresas brasileiras de estacionamento, e a Eletrobras, companhia de energia elétrica líder em geração e transmissão no País, se uniram para criar um conjunto de eletropostos no estacionamento do Aeroporto de Congonhas e outro em uma garagem subterrânea na tradicional Praça Cinelândia, na região central da cidade carioca. A Eletrobras responde pelo fornecimento da energia, ao passo que a Estapar entrou com o ativo (os estacionamentos) e a gerência das duas operações, por meio da sua subsidiária Zletric, uma das principais detentoras de rede de recarga de veículos elétricos do Brasil.
Há algum tempo a companhia vem ensaiando um passo mais ousado. “Há quatro anos, a Estapar lançou o Ecovagas, espaços que receberam aparelhos de recarga. Em 2022, nossas atividades voltadas para a eletromobilidade ganharam corpo com a aquisição da Zletric”, diz Emilio Sanches, CEO da Estapar. “E, em 2023, instalamos carregadores em um estacionamento na região da Paulista. Portanto, a parceria comercial com a Eletrobras é um movimento natural, resultado de muita análise de mercado”, acrescenta Sanches.
Ele conta que a Estapar investia com cautela na mobilidade elétrica, devido ao dilema ainda hoje vivido pelo setor: é mais prudente aguardar a explosão de vendas dos eletrificados para montar a infraestrutura ou a expansão de pontos de recarga já deve estar pronta para a chegada dos carros movidos a bateria? “Até que a Eletrobras identificou uma oportunidade de ingressar no segmento e nos chamou para fazer parte do projeto”, explica.
CARGA RÁPIDA. O hub de Congonhas (zona sul de São Paulo) funciona no espaço batizado de “Área Premium Eletrobras”. São 24 carregadores AC (carga lenta) de 22 kW disponíveis não só para quem vai viajar, mas também ao usuário que estiver nas redondezas e precisa reabastecer a bateria do carro.
Na Cinelândia (Av. Rio Branco, 299), foram colocados 22 pontos: 20 de carga lenta, idênticos aos de Congonhas, e dois de carga rápida (DC), com potência de 30 kW. Os preços são de R$ 1,99 o quilowatt hora (kWh) para carga lenta e R$ 3,99 o kWh para a rápida.
Apesar do pouco tempo de operação, Sanches aponta diferenças nos perfis dos consumidores dos hubs. “O usuário do aeroporto é aquele que faz uma viagem e aproveita para deixar seu carro carregando. Nos primeiros dias, os pontos registraram 40% da ocupação. Na Cinelândia, há muitos veículos de frotistas e prestadores de serviços.”
O CEO da Estapar não divulga valores investidos nas duas estruturas, mas revela os planos de expandir a ideia para outras cidades ainda neste ano. “A Zletric é um braço muito forte nas atividades da empresa, mas ela não atua exclusivamente nos estacionamentos da Estapar, o que nos abre muitas perspectivas. Já existe uma demanda maior que a oferta em estacionamentos de shoppings e hospitais, por exemplo”, atesta.
APLICATIVO. No entender do executivo, a carência de infraestrutura, apesar da evolução do mercado, ainda é um dos entraves para o avanço da eletromobilidade no Brasil. Nesse contexto, iniciativas como a da Estapar e Eletrobras ajudam a ampliar o segmento e a dar mais tranquilidade ao consumidor interessado em comprar um automóvel com essa tecnologia de propulsão.
Para não correr o risco de encontrar os pontos de recarga ocupados, os clientes podem visualizar as vagas pelo aplicativo Zul+, que pertence à Estapar. Ele traz um mapa atualizado com os eletropostos da Zletric distribuídos pelo País, com informações como potência, o modelo do equipamento, número de plugues, além do horário de funcionamento das estações. Sanches acredita que a implantação dos hubs é mais um passo da Estapar para se tornar uma autotech, ou seja, uma empresa que combina tecnologia de ponta com o setor automotivo. “Queremos, cada vez mais, fornecer ações e comodidades aos motoristas, com serviços que extrapolam um estacionamento”, diz.
Atualmente, a Estapar e a Zletric administram 1.200 pontos de recarga e as oportunidades tendem a aumentar, segundo projeções de Sanches. “Daqui a cinco anos, de 20% a 25% dos automóveis 0-km vendidos no Brasil serão eletrificados”, estima. “É um caminho sem volta e, não só os elétricos, mas os veículos híbridos estão chegando com muita força no mercado."