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O que esperar das eleições municipais em São Paulo

 

Por Jorge Hori* - Entre os cenários prováveis para as eleições de 2020, desenhamos o que intitulamos "rebelião da periferia", com a possibilidade de uma "onda Boulos".
O eleitorado pobre na cidade de São Paulo, que abrange uma "classe média baixa" e a classe baixa, se concentra das áreas periféricas, assim consideradas pela distância do centro histórico.
As transformações da cidade não só deslocaram o centro principal, como transformaram antigas periferias em áreas próximas aos novos centros, tendendo a se tornar novos centros. É o caso da área caracterizada de forma generalizada como Morumbi, que por estar além-rio (no caso o Pinheiros) não só era periférica, mas interior. Lá um loteamento organizado que fracassou tornou-se uma grande favela, a de Paraisópolis, que foi sendo cercada pela ocupação imobiliária das classes de renda mais alta. Não é mais periferia territorial, ainda que fora do centro expandido, e depois dela está se formando um novo centro. O termo "periferia" acabou designando áreas da cidade ocupadas por uma população de menor renda, em favelas ou loteamentos clandestinos, na origem, e atualmente caracterizados apenas como irregulares.
Ao designarmos o cenário como "rebelião da periferia" estamos nos referindo a uma eventual rebelião dos pobres e miseráveis, fazendo valer a sua maioria quantitativa e eleger o prefeito da cidade.
No geral essa população é submissa, sendo comandada pelos políticos das classes acima dela, seja pelas articulações políticas, como por campanhas populistas.
Como trabalhadores, sempre foram marginalizados ou desprezados. Na visão marxista, que emergiu durante a primeira revolução industrial, contrapondo empresários-empregadores aos operários das fábricas ou das minas, as pessoas sem vínculos contratuais operando por conta própria, em atividades de serviços pessoais, não eram reconhecidas como trabalhadores, formando o "lumpem proletariat". Sem direitos, sem proteção social do Estado, sem educação e sem direito a votar. O que só veio a ser conquistado muito anos após, em vários países.
O Partido dos Trabalhadores foi criado e liderado por um líder sindical de trabalhadores formais, desprezando o "lumpem".
Em 1989, Lula, com o apoio maciço dos sindicatos e trabalhadores formais  e ainda da igreja católica e intelectuais, além de outros grupos "progressistas" da classe média, foi derrotado por Fernando Collor de Melo.
Foram apontadas diversas razões para a derrota de Lula, mas poucos apontaram a principal: Collor conseguiu - mediante um discurso populista - conquistar os votos do "lumpem", no seu discurso os "pés descalços", e com a sua mensagem "agora é a nossa vez".
Lula ainda demorou para perceber que precisava do apoio desse contingente, mas em 2002 foi eleito com o voto desse. Desenvolveu o Bolsa Família, criado por dona Ruth Cardoso, como um programa assistencial continuado. Ajudou a eleger Dilma, mas essa só o manteve, não criando novos mecanismos para gerar oportunidades de trabalho para aqueles, caracterizados como "informais", um exército invisível de trabalhadores.
Bolsonaro foi eleito, em 2018, sem contar com essa população, que se manteve fiel - na sua maior parte - ao petismo.
A pandemia tornou visível esse "exército invisível" e Bolsonaro vem tentando conquistá-lo através do auxílio emergencial.
Não está apenas no Nordeste, mas nas periferias das grandes cidades, principalmente em São Paulo.
O PT, com Fernando Haddad, desprezou essa população e deixou o espaço para ser disputado entre Dória e Russomanno. Dória foi mais "esperto" e venceu a Prefeitura, ainda no primeiro turno, em 2016.
Agora em 2020, essa população e eleitorado estão sendo disputados por Jilmar Tato, do PT, e por Guilherme Boulos, do PSOL.
Essa disputa não deixa muitos espaços para os demais, inclusive para os eventuais bolsonaristas, sejam de raiz ou recém-aderentes. O único com alguma penetração junto a esse público seria Celso Russomanno, em função do seu histórico pessoal e, eventualmente, pelo apoio da Igreja Universal do Reino de Deus, dirigido pelo pastor Edir Macedo.
Com a visibilidade conquistada, como irá reagir esse eleitorado? E como irão reagir os contrários a ele?
Aparentemente Guilherme Boulos está sendo mais eficaz na conquista desse eleitorado. Até onde conseguirá ir? Com o seu eventual crescimento, como será a reação dos demais segmentos da sociedade paulistana?
O que não se pode desprezar é a “onda Boulos”, que poderá se transformar num tsunami, da mesma forma que em 2018 a onda bolsonarista surpreendeu todos os analistas.
O seu crescimento tem fundamento. Não pode, nem deve ser desprezado.

* Jorge Hori é consultor em Inteligência Estratégica e foi contratado pelo SINDEPARK para desenvolver o estudo sobre a Política de Estacionamentos que o Sindicato irá defender. Com mais de 50 anos em consultoria a governos, empresas públicas e privadas, e a entidades do terceiro setor, acumulou um grande conhecimento e experiência no funcionamento real da Administração Pública e das Empresas. Hori também se dedica ao entendimento e interpretação do ambiente em que estão inseridas as empresas, a partir de metodologias próprias.

NOTA:

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do SINDEPARK.


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