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Empresas ampliam infraestrutura e avaliam cobrar pela recarga

O Brasil acaba de saltar de 750 para 836 pontos de recarga públicos e semipúblicos para veículos elétricos. Esse número é resultado de um levantamento da startup Tupinambá Energia, mas ainda não é reconhecido oficialmente pelo Grupo de Eletropostos da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), o que deve acontecer em breve.

“O mercado está em franca expansão”, comemora Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá. Mas ele mesmo faz um adendo. “Desse total, 40 estavam fora do ar, ou seja, a energia caiu e não havia sido religada.” Justamente por esse motivo, Paulo Maisonnave, responsável pela mobilidade elétrica da Enel X e vice-presidente de infraestrutura da ABVE, prefere manter cautela. “É complicado definir com certeza quantas estações de recarga estão em operação no Brasil porque algumas estão fora de serviço, com um cone na frente da vaga, impedindo o uso”, afirma.

Apesar da ressalva, Maisonnave acredita que a implantação de pontos de recarga segue com boa cadência no País. “Uma média aceitável no mundo é de dez carros elétricos para cada posto. Ainda temos poucos carros 100% elétricos nas ruas. Mas, se levarmos em conta a quantidade de 836 pontos para cerca de 2.700 automóveis que rodam no Brasil, então estamos falando de 3,3 estações por veículo”, revela. “Estamos caminhando bem”, endossa Paulo Schaan, presidente da startup Zletric. “Quando a frota dos Estados Unidos era de 50 mil carros elétricos, eles tinham 4 mil pontos de recarga.”

Ecovaga já tem 250 espaços

No entanto, na medida em que a frota de carros movidos a bateria aumentar nas ruas brasileiras, o número de postos de recarga precisará proliferar, embora 95% dos usuários façam a recarga dentro de casa, durante a noite. Segundo o Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), nos Estados Unidos e em países europeus, esse número varia de 75 a 80%, enquanto na China é de 55%.

De olho nesse filão, que tende a crescer, várias empresas atuam com foco na instalação de pontos de recarga públicos e semipúblicos. Braço da Enel, a Enel X é uma empresa de geração e distribuição de energia elétrica. Em parceria com a Estapar, ela criou no ano passado o projeto Ecovaga, uma rede com 250 vagas conectadas e inteligentes para abastecimento de veículos elétricos. Pelo aplicativo, o cliente consegue saber se determinado espaço está ou não ocupado e pode fazer o agendamento, praticidade que, segundo Maisonnave, não existe em outros postos.

“Só podem usar as ecovagas clientes de montadoras, operadoras de cartão de crédito, locadoras e seguradoras que apoiam o projeto”, diz. Maisonnave destaca outro diferencial: as ecovagas têm suporte técnico, garantia e uma gestão segura. “No Brasil, é comum um estabelecimento instalar um ponto de recarga, mas sem o suporte necessário e sem nenhuma prestação de serviço”, afirma. “Além disso, ao chegar lá, o motorista tem de rezar para que ele não esteja ocupado.”

A instalação dos carregadores de cada ecovaga custa entre R$ 10 mil e R$ 20 mil. Enel X e Estapar têm interesse também em implementar eletropostos de carga ultrarrápida nas estradas, que são bem mais caros: de R$ 200 mil a R$ 1 milhão. “Já temos os equipamentos, porém estamos avaliando parcerias com empresas interessadas no projeto. Não vamos entrar no negócio somente por uma questão de marketing”, salienta Maisonnave.

Impasse na forma de cobrança

Davi Bertoncello, da Tupinambá, está otimista. Para ele, o Brasil terá 3 mil postos de recarga públicos e semipúblicos até o fim de 2022. “A infraestrutura para os veículos elétricos evolui em ritmo acelerado”, acentua. “O trabalho da Tupinambá vai de ponta a ponta, desde a instalação do posto até o seu gerenciamento.” Ele conta que hoje a empresa é responsável por 50 postos, podendo chegar a 100 ainda até dezembro.

Atualmente, um dos assuntos em discussão do setor se refere ao início da cobrança da recarga, oferecida gratuitamente aos usuários. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) permite a cobrança desde 2018, mas ainda não existe um modelo ideal para que isso aconteça. “Grande parte dos primeiros carregadores instalados no Brasil é desconectada, ou seja, não tem condições de efetuar a cobrança”, revela Bertoncello. Outro impasse, segundo o CEO da Tupinambá, é como se dará a venda de energia: se ela vai gerar uma nota de serviço, que corresponderá ao tempo de utilização da estação de recarga, ou ao consumo de kWh.

Para Eduardo Souza, CEO da Eletric Mobility, a cobrança esbarra em dois entraves. “O primeiro é a ausência de uma legislação clara sobre as regras de cobrança e como seria a incidência correta dos impostos”, relata. “O outro obstáculo é o custo elevado dos carregadores rápidos e ultrarrápidos, que inibe a atuação das empresas. A redução tributária dos equipamentos seria mais atrativo e poderia se refletir no valor cobrado ao cliente.” A seu ver, quem tem um carro elétrico não se incomoda em pagar pelo fornecimento do insumo. “Desde que o cliente receba toda a infraestrutura disponível”, completa.

Aluguel de estações

Cada uma a seu modo, as empresas de solução de energia se movimentam para viabilizar os negócios. Em agosto, a Zletric captou R$ 5 milhões, de 207 investidores, em apenas 90 minutos, por meio do hub de investimentos de startups CapTable. “O valor será usado para ampliar a rede de recarga em 2022”, anuncia Schaan. “Quando as pessoas colocam dinheiro na Zletric, elas estão dizendo: ‘Façam mais eletropostos porque isso é o futuro da mobilidade’. Vamos fechar o ano com 300 pontos e queremos chegar a 700 em 2022.”

Outra novidade da Zletric é o aluguel do ponto de recarga. “Muitas vezes, o dono do carro não pode ou não quer gastar cerca de R$ 7 mil para instalar um totem. Então, fazemos o investimento e alugamos o serviço individualizado por R$ 169 mensais”, afirma Schaan. Já a Eletric Mobility lançou recentemente o QC120, carregador de 120 kW capaz de reabastecer três veículos elétricos ao mesmo tempo. “Com o QC120, é possível realimentar 80% da bateria em 40 minutos”, destaca Eduardo Souza. A Tupinambá, por sua vez, fechou contrato com a Stellantis para que os automóveis elétricos da companhia – que agrega marcas como Fiat, Chrysler, Peugeot e Citroën – saiam de fábrica já mostrando nos mapas do sistema de navegação onde estão os postos de recarga da empresa ao longo do trajeto do motorista.

A Tupinambá também fez uma parceria com a Movida para explicar aos usuários que alugam carros como usar as estações. Por fim, um acordo com o Carrefour aumentará de cinco para 40 os pontos de recarga instalados nos estacionamentos do hipermercado em todo o Brasil.

Pontos de recarga ajudam e-carsharing

Novos modelos de negócios também dependem de uma infraestrutura de recarga adequada. É o caso do e-carsharing, o serviço de carros elétricos compartilhados, que vai se beneficiar da multiplicação de postos em áreas de grande circulação. Segundo o Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), as parcerias com o poder público e iniciativas privadas representam um jogo de “ganha-ganha”. Enquanto a empresa de compartilhamento faz uso de um local seguro para a estação de recarga, o estabelecimento comercial terá um chamariz para atrair mais clientes.

As parcerias também contribuem para melhorar a mobilidade urbana nas cidades, permitindo a instalação da rede em lugares de integração com o transporte público, como já acontece em cidades como São José dos Campos (SP) e Fortaleza, que possuem experiências de sucesso na oferta de compartilhamento de veículos elétricos.

Como parte de um programa de fidelização, o cliente efetua a cobrança de um valor mensal em troca da utilização da rede de estações das empresas, que aproveitam para oferecer uma gama de serviços extras aos veículos elétricos, como manutenção, limpeza e assistência técnica.

- O Brasil tem 836 pontos de recarga públicos e semipúblicos

- 2.700 automóveis 100% elétricos rodam no Brasil
Fonte: O Estado de S. Paulo, 10/11/2021

Categoria: Geral


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