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Anfavea foca na emergência da crise e segue sem previsões


No momento em que enfrenta o que deverá ser lembrado como maior crise da história do setor automotivo, a associação dos fabricantes de veículos instalados no Brasil, a Anfavea, prefere focar suas energias para tentar resolver as diversas emergências provocadas pela pandemia de coronavírus, que fechou fábricas e reduziu a zero o faturamento das empresas – sem, no entanto, cancelar despesas. É por isso, segundo o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, que nesse momento a organização seguirá sem revisar suas projeções de vendas, exportações ou produção.
Moraes explicou que, antes de revisar projeções carregadas de incertezas, há muitas outras prioridades para resolver que envolvem a Anfavea.
“Continuamos sem previsão [de como serão vendas, exportações e produção este ano]. Todos estão sem visão do que pode acontecer, modelos estatísticos com base no ano passado não servem de nada para agora. É muito difícil fazer qualquer projeção no momento. Em vez de gastar energia nisso, precisamos resolver nossos problemas. A prioridade agora é o caixa, pagar o boleto do mês, e planejar a reabertura das fábricas”, afirma Luiz Carlos Moraes.
Moraes reconhece que o ano será de queda profunda no desempenho do setor que representa, só não arrisca dizer qual a profundidade do penhasco à frente. “Consigo imaginar esse trimestre muito difícil. Dependendo da crise da saúde, o terceiro trimestre deve alcançar um patamar melhor e o quarto também melhor, mas substancialmente os volumes serão muito menores. Acho que vai ser um número muito ruim”, avalia.
“As consultorias falam em [volumes de mercado e produção] que vão de 1,8 milhão a 2,4 milhões este ano. No mundo a estimativa é de redução de 20 milhões, de 90 milhões [de veículos vendidos] em 2019 para 70 milhões [em 2020], é como se [o mercado de] uma China sumisse do mapa. A direção é por aí. Mas qual o número? Ainda quero esperar um pouco”, ponderou Moraes.
EMERGÊNCIAS
Entre as emergências a resolver, está justamente a regularização do sistema de emplacamentos no País, que causa represamentos e amplia a volatilidade – o que ofusca qualquer previsão e reduz a eficiência das vendas on-line. “A média diária caiu para apenas 1,4 mil emplacamentos/dia no fim de março, ontem (22 de abril) chegou a 2.250, já teve dia com 3 mil, 3,5 mil emplacamentos. Existem Detrans funcionando, outros não estão. Claro que isso prejudica a evolução das vendas [que já estão muito baixas]”, explica o presidente da Anfavea.
“Estamos tentando resolver um problema por vez e o próximo é a agilidades dos Detrans, que também precisam se reinventar, assim como toda a indústria tem de fazer neste momento. Lanço um desafio: por que não fazer um licenciamento virtual, usar placa virtual enquanto o carro não pode ser emplacado? Isso facilita a compra, o seguro. Assim como fazemos vendas virtuais, o sistema público poderia também atender de forma virtual e estimular o mercado. Tem cliente querendo comprar”, defende Moraes.
O dirigente afirma que no momento estão paradas 43 fábricas de empresas associadas à Anfavea. No início do mês eram 62, mas alguns fabricantes de máquinas agrícolas já voltaram a operar, pois atendem ao setor do agronegócio que opera em velocidade diferente do resto da economia, com expectativa de colher este ano nova safra recorde de 250 milhões de toneladas de grãos – o que também deve fazer ser menor o tombo nas vendas de caminhões pesados em 2020.
Moraes informa que os demais associados se programaram para retomar à produção entre maio e junho, de forma gradual. Esta é outra questão emergencial: planejar a volta ao trabalho. “Estamos preparando essa retomada, voltar à produção não é simples, trabalhamos intensamente com os RHs das empresas para organizar tudo do ponto de vista da saúde, separamos o retorno em blocos [de atividades], vendo os exemplos de outros países que estão voltando. Mas com certeza as fábricas não poderão operar como antes, muita coisa vai mudar, vamos viver um novo normal”, avalia.
“Vamos ter de pensar no transporte dos funcionários, na limpeza em todo o trajeto, limites de aproximação, medição de febre, higienização dos escritórios, máquinas, ferramentas, cuidados de vestiários, como fazer as refeições... Será um modelo e ritmo diferentes, o pessoal de produção está se reinventando para retomar, priorizando saúde e olhando demanda, ainda tentando adaptar a velocidade da linha”, explica.
O FUTURO PRÓXIMO
Assim que a organização da volta ao trabalho for concluída, Moraes afirma que o próximo passo será discutir incentivos à retomada do consumo. “Estamos trabalhando nessa linha em todas as direções, com possíveis medidas tributárias, compilando o que já fizemos no passado e olhando o que outros países estão fazendo, porque eles entendem que o setor move a economia e acham importante agir”, diz.
Ele destaca que, além dos instrumentos tradicionais como redução de impostos e estímulos ao crédito, “também precisamos inovar, pensar em soluções criativas”. O dirigente inclui a proposta de um programa de renovação de frota entre as iniciativas possíveis, mas diz que nada nesse sentido foi apresentado ainda, “mas como presidente de uma associação estou aqui lançando esse desafio, para que as pessoas comecem a pensar nisso e apresentem suas ideias, vamos precisar”.
“Vamos precisar estimular o consumidor, o operador, o empresário voltar a comprar no futuro próximo. Além da saúde dos trabalhadores, penso também na economia, precisa achatar essa curva [de queda] para que a depressão seja a menor possível, ou muita gente vai morrer no caminho.”
Enquanto isso, Moraes reconhece que os investimentos bilionários programados pelos associados para os próximos anos “neste momento estão congelados, significa que ninguém pode gastar aquele dinheiro que está no orçamento, porque não há recursos para isso agora, antes temos de proteger o caixa e não gastar”.
Ele diz que o setor ainda não rediscutiu com o governo nenhum prazo para adoção obrigatória de novos equipamentos de segurança veicular, novas etapas da legislação de emissões (Provonve P8 e L7) ou metas de eficiência energética previstos pelo programa Rota 2030. Mas admite que após o fim da quarentena essas discussões serão inevitáveis. “A Anfavea é a favor de melhorar a eficiência, aumentar a segurança, mas precisa ver agora se temos condições. Estamos discutindo com as empresas, esse vai ser um tema que vamos conversar.”
CENÁRIO ADVERSO
Moraes espera por impulso das vendas on-line mesmo após o fim da quarentena – “algumas montadoras já tinham iniciativas implantadas antes da crise e aquilo que era um projeto embrionário talvez se torne uma grande ferramenta de venda” –, mas em escala insuficiente para compensar toda a queda do mercado. “Apesar dos juros baixos, o comprador de automóveis continuará com dificuldades, o desemprego tende a crescer e isso terá impacto negativo no futuro próximo”, argumenta.
O dirigente lamenta que após as medidas de quarentena o legado da crise será pior e vai demorar mais a passar no Brasil do que em outros países, “porque não fizemos a lição de casa e a conta virá mais cara, a situação já não era boa antes e agora tudo ficou mais difícil, temos muitos problemas”. Ele aponta as já conhecidas mazelas nacionais como carga tributária elevada, renda baixa, desemprego alto (e crescente). “Tudo isso vai dificultar a retomada”, diz. “Dever de casa é cuidar dos seus, cuidar da população, que está pagando a conta agora.”
Moraes também aponta “a falta de coordenação” dos governantes para lidar com a situação crítica atual: “Numa situação como essa, precisa ter governo, Legislativo, Judiciário e Executivo trabalhando juntos, coordenados. Dadas as circunstâncias, não poderia haver esses ruídos todos. Vejo muita discussão e pouca ação”, afirma.
Mas a crise também deixa alguns legados positivos, segundo Moraes: “Vejo mais agilidade com uso de tecnologias de conexão, a vida está acontecendo [com elas], não é preciso gastar tempo nem dinheiro em deslocamentos, descobrimos que não é necessário sair do lugar para resolver muitas coisas. O comportamento é um novo legado, é algo que veio para ficar, como a gente vê a família, a solidariedade mexeu com a sociedade, com as empresas, muitas doando, fazendo máscaras. Tem a valorização da ciência – cientistas de vários países se falando, tentando encontrar uma solução [para a doença].”
Fonte: Automotive Business, 23/04/2020

Categoria: Geral


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